Preparação Mental no Judo: À conversa com Nuno Saraiva
Entrevistas 22/09/2016

Preparação Mental no Judo: À conversa com Nuno Saraiva

Miguel Lucas Publicado por Miguel Lucas

É com enorme satisfação, que escrevo este artigo sobre a importância da preparação mental no judo para a obtenção de resultados de excelência. Numa conversa informal com o Nuno Saraiva, um atleta de dezassete anos, do escalão Júnior da categoria de (-73kg), vamos falando de alguns dos principais benefícios que consideramos terem potenciado a sua prestação no Campeonato do Mundo de Júniores, realizado em Novembro de 2011 , na República da África do Sul, Cidade do Cabo, onde 522 judocas de 65 países diferentes competiram. O Nuno alcançou um excelente resultado, ficando em 9º lugar.

BIOGRAFIA DESPORTIVA

Nome: Nuno Saraiva
Data de Nascimento: 16-03-1994
Naturalidade: Marinha Grande
Clube: Judo Clube da Marinha Grande

Resumo Curricular (aspectos mais relevantes):

  • 9º lugar no Campeonato do Mundo de Júniores, República da África do Sul 2011
  • Medalha de Bronze – Campeonato Europa Esperanças Teplice 2010
  • Medalha de Prata – Taça da Europa de Esperanças Miranda do Corvo 2010
  • 5º lugar no torneio Internacional Szczyrk Polónia 2009
  • Medalha de Bronze no Torneio Internacional de Esperanças Miranda do Corvo 2009
  • Medalha de Bronze – Torneio Internacional de Madrid 2009

Três Palavras-Chave que definem o Nuno Saraiva: Espírito de Sacrifício | Humildade | Espírito Ganhador

Ao longo dos últimos cinco anos, tenho sido responsável pela preparação mental de alguns atletas do Judo Clube da Marinha Grande (Portugal), entre os quais destaco o Nuno Saraiva. Temos feito um trabalho contínuo inserido num programa de implementação de estratégias psicológicas com o objetivo de potenciar o rendimento desportivo. Numa perspectiva de ensinamento de estratégias mentais de êxito, focadas em vertentes como:

  • Concentração
  • Motivação
  • Confiança
  • Visualização
  • Regulação energética: Ativação / Relaxamento
  • Rotinas mentais pré-competitivas
  • Implementação de crenças funcionais e adaptativas
  • Alfabeto motivacional
  • Âncoras: gatilhos que facilitam a colocação na Zona Ótima de Funcionamento
  • Promoção do “Estado de Forma”
  • Implementação do “Modo Competitivo”
  • Gestão da ansiedade
  • Estratégias competitivas de êxito
  • Superação
  • Recuperação de lesões
  • Gerir os momentos críticos em competição

Estas são algumas das áreas que podem ser trabalhadas e implementadas num programa estruturado de preparação mental nos esportes de combate em grupo ou individualmente. Tal como os vários aspetos envolvidos no treino físico, as competências psicológicas não se desenvolvem de um dia para o outro, é necessário praticar diariamente, saber utilizá-las e perceber a importância que têm em potenciar a performance e igualmente a evitar os erros competitivos ou a ultrapassar momentos difíceis em competição, fases de desmotivação ou mesmo problemas pessoais que possam afetar o rendimento desportivo.

Ao longo da conversa eu e o Nuno Saraiva vamos abordando os factores psicológicos que consideramos terem sido de extrema importância para a performance alcançada. A conversa está repartida em cinco vídeos, apresentando vários exemplos e descrições das estratégias utilizadas e como funcionam na prática.

Nota: Fui descrevendo, explicando e complementando o conteúdo contido na conversa e surpreendentemente verifiquei que a informação disponibilizada permitiu criar um GUIA EXPLICATIVO DOS ASPETOS PSICOLÓGICOS PARA O MÁXIMO RENDIMENTO DESPORTIVO.

Nuno Saraiva nos Jogos

Concentração e rotinas pré-competitivas

A concentração é um fator muito abordado pelos treinadores, chama-se várias vezes a atenção aos atletas para estarem concentrados. Mas concentrados em quê? Se partirmos do principio que a concentração é uma competência sequencial, ou seja nós estamos constantemente focados em algo. Dizer apenas ao atleta para se concentrar é uma informação vazia de conteúdo.

Na preparação mental do Nuno, treinámos largos meses na ideia que a concentração tem conteúdo, que é instável, está sempre a fluir, mas que é possível saber direccionar a atenção para o que é importante, ou naquilo que o atleta mais necessita ao longo de um combate ou nas rotinas pré-competitivas (aquecimento e preparação no período que antecede o combate).

A concentração é também instável e sofre influência dos estados de humor, da motivação, dos níveis energéticos e da confiança, para nomear alguns dos aspetos mais importantes. A forma de manter a concentração sobre controlo ou regulada é estando sobre a autoridade do atleta. O atleta de forma consciente, em treino, vai aprendendo a focar a sua atenção nos aspetos que são necessários para potenciar o seu nível de judo, falhas, erros, tática, técnica. Ou seja, a concentração está sempre presente.

Com mais ou menos consciência, o atleta está sempre focado em algo. É aquilo em que o atleta se foca que nós chamamos de “conteúdo da concentração“. É exatamente esse conteúdo que o atleta vai programando para implementar nas rotinas pré-competitivas.

Do conteúdo da concentração fazem parte as estratégias mentais. São as estratégias mentais treinadas previamente e colocadas nas rotinas pré-competitivas que potenciam o nível de judo do atleta. Tal como o Nuno falou, ele eleva os seus níveis de energia e confiança através dos métodos já implementados.

Quebra de crenças: Ganhar nos primeiros segundos do combate

Todos nós individualmente temos crenças, ou seja, algo em que acreditamos ser verdade para nós e que nos influenciam os nossos pensamentos. Existem crenças adaptativas e facilitadoras que nos servem, outras que são inadequadas, que não nos servem e dificultam a obtenção dos objetivos. De igual forma os atletas seguem também este princípio e que pela força do hábito criam um padrão mental que pode conter algumas formas de pensamento limitativo e dificultador da obtenção dos seus objetivos e desejos.

Por exemplo, trabalhei com o Nuno a crença de que era possível ganhar nos primeiros segundos de um combate.  Neste caso a quebra de crença foi pelo lado positivo. O objetivo de implementar esta crença, não era que o atleta de forma obsessiva se forçasse a atacar de maneira desmedida ou descontrolada.

A estratégia é treinada e implementada como uma possibilidade de ser aplicada, de acordo com alguns estímulos que são devidamente lidos através de gestos motores do adversário. A possibilidade está latente no cérebro do atleta, como uma possibilidade que é automaticamente ativada se o atleta verificar que consegue tirar vantagem em atacar com grande ímpeto.

Em todos os esportes, pela força do hábito criam-se padrões de pensamentos comuns, que limitam algumas das possibilidades possíveis, isto porque tendemos a ir pelos caminhos mais seguros que nos garantam a maior probabilidade de sermos bem sucedidos. E, naturalmente não existe problema nenhum com este tipo de pensamentos. No entanto, acredito que uma possibilidade é isso mesmo, uma oportunidade de efetivar uma ação que possa conduzir-nos ao sucesso, mesmo que a probabilidade seja reduzida.

Probabilidade não é igual a possibilidade, dado que a possibilidade existindo pode ser concretizada. Por outras palavras, se o atleta não tiver a crença que pode efetivar a possibilidade de conseguir ganhar nos primeiros segundos de um combate, certamente, mesmo que o adversário crie essa oportunidade o outro atleta pode não aproveitar de forma eficaz, dado que baseia-a na probabilidade reduzida de ser bem sucedido e porque isso não faz parte da estratégia previamente treinada. E provavelmente não é treinada por ser arriscado executá-la.

Treino de vários cenários mentais

O atleta treina através da visualização vários cenários possíveis, principalmente abordando quatro situações:

  • O atleta vê-se a ser bem sucedido
  • O atleta vê-se a enfrentar dificuldades e a perder
  • O atleta vê-se a estar empatado e a dar a volta ao resultado
  • O atleta vê-se em cenários improváveis de acontecer

Esta estratégia é muito capacitadora porque permite ao atleta treinar alguns aspetos que no treino físico nem sempre são possíveis de aplicar ou modelar. A utilização da visualização é uma técnica altamente eficaz quando o atleta já consegue utilizar boas imagens e consegue colocar-se num estado fisiológico idêntico ao competitivo. Simula desta foram situações que permitem aumentar os níveis de confiança, os níveis técnicos e sobretudo implementa na sua mente situações que estão estudadas de forma imaginada e que numa situação idêntica em competição irão ser accionadas de forma automática, aumentando a probabilidade do atleta ser bem-sucedido.

Esta técnica ajudou na implementação da possibilidade de ser possível atacar para ganhar nos primeiros segundos do combate. E quando me refiro a atacar para ganhar, tem a ver com o ímpeto e a certeza que o atleta coloca no seu ataque com o objetivo único de realizar Ipon, e não apenas de simular um ataque.

Desempenhos diferentes em momentos diferentes

O Nuno, na sua participação no Campeonato da Europa, obteve um pior resultado que no Campeonato do Mundo, devido a um erro mental. Este erro mental teve origem numa crença desadequada e limitadora que o Nuno foi criando e que nós só nos apercebemos alguns dias antes, e já não conseguimos reverter a situação. O Nuno criou a crença que tinha menos força física do que os seus adversários.

Ao acreditar nisto, o atleta fica numa situação altamente desfavorável, porque está a implementar uma auto realização de profecia. Profetiza desta forma que quando sentir o gatilho (a força do adversário) irá comprovar automaticamente que tem menos força e diminui drasticamente a sua confiança e os níveis de energia caem bruscamente,  focando-se nos seus receios. Nesta situação o atleta faz auto sabotagem e fica vulnerável ao adversário, não conseguindo aplicar de forma eficaz a sua estratégia previamente treinada.

O que se comprovou no caso do Nuno, ele perdeu o primeiro combate devido à crença limitadora que criou erradamente para si mesmo, e foi eliminado no Campeonato da Europa. Os erros baseados em crenças desadequadas e incapacitadoras inibem a eficácia, conduzindo o atleta a enfrentar dificuldades criadas por si mesmo e não pelo adversário.

Identificação de crenças inadequadas e identificação de erros

Tão importante como aumentar a condição física, técnica e tática é a identificação de crenças inadequadas e identificação de erros que possam estar a funcionar como inibidores e sabotarem o nível de judo que o atleta já atingiu. Existe uma relação bidirecional entre a mente e o corpo (os estados fisiológicos influenciam os pensamentos, e os pensamentos influenciam os estados fisiológicos), isto é um fator indissociável e os atletas que não tiverem um elevado domínio nesta forma de interação certamente irão sentir o seu rendimento desportivo afetado negativamente.

Ao invés, se perceber que ao redefinir algumas crenças que possam estar a limitar o seu nível de judo e implementar novas formas mais adequadas e potenciadoras do seu treino físico, e que estejam de acordo com os seus objetivos pretendidos, o atleta irá melhorar o seu grau de mestria, controle emocional e energético.

Para aprofundar este assunto, pondere ler o artigo: 8 regras para criar pensamentos capacitadores

Com um melhor entendimento da influência que os estados mentais têm no rendimento desportivo e eficácia motora, o atleta consegue aprender mais rapidamente e consequentemente potenciar-se através de uma relação de feedback, entre as suas ações e os pensamentos que regulam e controlam essas mesmas ações. Esta capacidade de tornar-se observador de si mesmo, e ao mesmo tempo em tempo útil conseguir regular os seus pensamentos e atitudes no sentido de accionar determinadas estratégias mentais que permitam adequar-se rapidamente às circunstâncias, e consequentemente emitir comportamentos motores que lhe permitam ser bem sucedido, é considerado uma vantagem competitiva.

Implementação de crenças adaptativas: Ganhar nos últimos segundos

Da mesma forma que trabalhámos na possibilidade de poder atacar com todo o ímpeto e intenção de derrubar o adversário nos primeiros segundos de combate, já tínhamos implementado a crença de que é possível ganhar nos últimos segundos. Claro que é possível, mas de que forma? Até que ponto o atleta é capaz de manter a mesma confiança quando o tempo começa a ser escasso? Certamente, a grande maioria dos atletas olha várias vezes para o cronometro com o objetivo de ver o tempo útil, é aqui que duas coisas distintas podem acontecer.

O atleta pode começar a ficar frustrado, perde o seu foco atencional e desorienta-se, cometendo erros de decisão e ineficácia nas suas tentativas de ataque ou defesa, ou mantém-se crente que ainda é capaz de aplicar as suas técnicas com elevada eficácia, podendo até aproveitar o fato do outro atleta julgar que já nada pode acontecer.

Focar-se no que importa para aumentar a probabilidade de ser eficaz é a única estratégia válida a seguir quando o tempo se aproxima do seu limite. Dar indicações diretas e específicas a si mesmo, mobiliza todo o organismo para um único fim (a possibilidade de aplicar eficazmente uma técnica e derrubar o adversário). Ter este pensamento e vontade sempre presente e acreditar nela, torna-se em algo que na grande maioria das vezes se comprova como sendo uma vantagem competitiva.

Para manter esta vantagem competitiva o atleta tem de manter o foco na aplicação da sua estratégia e manter-se no seu melhor estado de recurso. Isto é assegurado, através da capacidade que o atleta tem de não se distrair nem deixar a sua atenção prender-se no tempo que falta e no receio que possa ter de já não existir tempo suficiente para ganhar. Manter o foco no processo que aumente a probabilidade de aplicar uma técnica que seja eficaz é de extrema importância.

Preparação mental entre combates

Saber gerir a transição de combates é uma competência que no judo é crucial, no sentido de conseguir compartimentar o que se passou daquilo que o atleta quer fazer a seguir. No caso de se perder um combate e ter de preparar o próximo, é imperativo que o atleta consiga fazer uma breve análise do que pode ter de ser melhorado, focar-se nesses aspetos técnicos, sem que isso necessariamente lhe afete os níveis de confiança, atitude positiva e estado de concentração.

Por vezes o atleta pode ser invadido por pensamentos negativos e pelas expetativas de um resultado que pretendia ser melhor. Ao perder, e verificar que esse combate perdido inviabiliza o lugar desejado, corre o riso de ser afetado emocionalmente e ficar num estado de recursos diminuídos, colocando o próximo combate em risco.

No decorrer da preparação mental, este tipo de cenários é simulado, e o atleta treina a melhor forma de analisar e retirar o que interessa, sempre numa perspetiva positiva de preparar o próximo combate.

Com esta atitude positiva, quer quando se perde um combate, quer quando se cometeram erros que dificultaram levar o adversário ao tapete, o atleta retira sempre algo que lhe pode ser útil no combate seguinte. Inibe assim a possibilidade de deixar-se afetar pelos efeitos negativos de uma avaliação demasiado emocional e com base nas suas expectativas. Ainda que as expectativas sejam de levar em consideração, naquele momento o que mais importa é focar a atenção nas estratégias mentais que possam potenciar o atleta e não focar-se em algo que lhe retire ânimo.

Como sabemos o poder das emoções é tremendo, para o bom ou para o mau, a favor ou contra o atleta elas fazem-se sentir. Importa que o atleta tenha um bom domínio das suas emoções, e que estas possam ser-lhe úteis no sentido de poderem potenciar o seu rendimento desportivo.

Para aprofundar este assunto, pondere ler os artigos:

Ativação para o combate: Melhor estado de recursos

Um dos fatores que o atleta tem que dar como garantido é o seu nível de energia. Mas a ativação não está apenas relacionada com os níveis de energia do atleta, comportando igualmente a mobilização. A mobilização recruta paralelamente a energia necessária para o combate e ao mesmo tempo transporta consigo todos os recursos mentais que o atleta tem de aplicar e que ajudam na conquista do melhor resultado possível.  

O atleta quando consegue mobilizar-se e chamar até si os recursos necessários que lhe permitem ficar confiante, coloca-se no seu melhor estado de recursos. Quando digo coloca-se, é propositado, na verdade o atleta vai dizendo e visualizando determinadas coisas que permitem recrutar as competências necessárias para aplicar eficazmente o que treinou.

Treino de âncoras: Associação de competências num estímulo escolhido

As âncoras, são atalhos que facilitam o atleta colocar-se no seu melhor estado de recursos, poupando tempo e recursos cognitivos. São associações de cariz emocional e/ou cognitivo em que o atleta associa o conteúdo desejado (por exemplo: motivação, desejo de ganhar, orientação de tarefa, estratégia, técnica) a uma palavra, imagem ou gesto, que permitem ao atleta de forma automática recrutar essas sensações, pensamentos ou energia. O atleta pode ter mais do que uma âncora, dependendo da situação em que a pretende utilizar e para que fins.

A âncora que o Nuno treinou e escolheu para ele, é auto intitular-se de “Nuno Guerreio” em que acciona o seu estado de forma. No fundo, todos os recursos que o Nuno conhece, treinou e lhe transmitem a máxima confiança e ativação ficam conscientes no exato momento em que ele verbaliza silenciosamente: “Nuno Guerreio”.

Estado de flow ou “zona”

O estado de Flow (fluxo), foi um termo introduzido e estudado pelo psicólogo Csikszentmihalyi. Resumidamente, a teoria do fluxo indica a Zona de Ótimo Funcionamento do atleta como um estado raro e dinâmico que se caracteriza como uma experiência de envolvimento auto gratificante e agradável. A literatura da psicologia do esporte é repleta de referências à “zona”, denominado como o pináculo da realização de um atleta, a zona caracteriza-se por um estado em que um atleta realiza o melhor da sua capacidade. É como se o atleta entrasse num lugar especial onde o desempenho é excepcional e consistente, automático e fluido. Um atleta é capaz de ignorar todas as pressões e deixar o seu corpo executar o desempenho que foi aprendido. A competição é divertida e excitante.

O Nuno sente de forma antecipada aquilo que vai fazer. É algo que acontece sem ser forçado. O Nuno não se obriga a entrar nesse estado, nem pensa analiticamente que quer sentir-se com as sensações associadas ao estado de flow. Isto é algo que é programado antecipadamente através das várias estratégias mentais incluídas no programa de preparação mental que treinamos regularmente.

Nem sempre ele consegue atingir este estado, mas com a prática e o treino continuado, mais facilmente o estado de flow surge de forma deliberada. E o nome para este acontecimento é prática deliberada. É alcançada através da programação dos seus conteúdos com um elevado grau de qualidade ao longo do tempo.

A prática deliberada, trata-se de uma atividade explicitamente direccionada a melhorar o desempenho, que busca objetivos além do nível de competência do atleta, proporciona feedback retirado dos resultados e envolve um elevado nível de repetição.

Csikszentmihalyi, identifica os seguintes dez fatores como estando presentes numa experiência de fluxo (nem todos são necessários para o fluxo ser experimentado):

  • Objetivos claros (expectativas e as regras são discerníveis e as metas são atingíveis e alinham-se adequadamente com o próprio conjunto de habilidades e capacidades). Além disso, o nível de desafio e nível de habilidade devem ambos ser elevados.
  • Concentração, um elevado grau de concentração num campo limitado de atenção (uma atleta envolvido na atividade terá a oportunidade de focar e aprofundar-se nele).
  • A perda do sentimento de auto-consciência, a fusão da ação e da consciência.
  • Senso distorcido de tempo, a experiência subjetiva do tempo é alterada.
  • O feedback direto e imediato (sucessos e fracassos no decorrer da atividade são aparentes, de modo que o comportamento pode ser ajustado conforme necessário).
  • Equilíbrio entre o nível de habilidade e desafio (a atividade não é nem muito fácil nem muito difícil).
  • Uma sensação de controle pessoal sobre a situação ou atividade.
  • A atividade é intrinsecamente gratificante, para que não haja esforço na ação.
  • A falta de consciência das necessidades corporais (na medida em que pode-se chegar a um ponto de grande fome ou cansaço sem perceber)
  • Absorção para a atividade, estreitamento do foco da consciência para a atividade em si, a consciência e a ação fundem-se.

Todos estes fatores apresentados não podem ser forçados a acontecer, eles acontecem como uma consequência dos processos já treinados e implementados no treino diário. Quando o atleta se esforça demasiado para atingir este estado, simplesmente não consegue alcançá-lo, pois comete interferências de raciocínio que não podem estar presentes.

“Carregar” o modo competitivo

Este termo que utilizamos, “carregar o modo competitivo” é no fundo o método que comporta alguns dos passos anteriormente descritos, tal como a ativação para o combate. O atleta relembra a si mesmo que para competir ao seu melhor nível, ele tem  que iniciar um processo de chamar até si o estado que conhece e se lembra quando efetuou as suas melhores competições.

Neste período o atleta pode ainda relembrar-se da estratégia treinada para a competição que vai realizar, e que aspetos são importantes estarem presentes para conseguir entrar na sua Zona de Ótimo Funcionamento e conseguir atingir o estado de Flow. Este termo é útil de ser utilizado, porque facilita a noção que o atleta constrói acerca de si mesmo e do seu nível de judo.

Se olharmos para o conjunto de estratégias mentais como um programa que podemos ir melhorando e que deve ser “carregado” antes de entrar em competição, isto fornece uma enorme sensação de controle ao atleta, aumentando os seus níveis de confiança. Acresce ainda o fato do atleta ter a vantagem de separar as suas competência atléticas e mentais da sua forma de ser (personalidade), permitindo ter um maior grau de flexibilidade mental para aprender e melhorar as estratégias que podem vir a confirmar-se como uma vantagem competitiva, quando devidamente aplicadas.

Consistência da confiança

A confiança é um construto pessoal que sofre múltiplas influências, como por exemplo dos estados de humor, do resultado das competições anteriores, da qualidade dos treinos, das crenças do atleta, das listas de sorteio, da autoestima e autoimagem, entre outras. Alguns atletas sofrem inevitavelmente flutuações na sua auto confiança, vendo o seu rendimento sendo afetado negativamente. Muitas razões podem estar na causa desta vulnerabilidade da confiança do atleta, e para trabalhar a confiança a fim de estabiliza-la e torná-la consistente, muitos métodos podem ser aplicados.

No entanto, aquele que eu acredito que surte mais efeito, é tomar atenção a algo específico que possa estar a minar essa confiança, redefinir essa crença desadequada, e posteriormente construir a crença de que a confiança que o atleta tem nele depende única e exclusivamente de si mesmo. E que a auto-confiança pode ser trabalhada, melhorada e potenciada no sentido de se tornar consistente ao ponto de não ser abalada, mas ao invés, contribuir para elevar ao máximo a performance em competição.

O atleta beneficia da construção de uma estrutura mental que lhe permita depender dele próprio. Tem de ser hábil em perceber como pode aumentar os seus níveis de confiança, treinar isso e implementar no seu modo competitivo.

O Nuno tenta sempre dar o seu melhor, acreditando que se o seu melhor estado de forma for suficiente para ganhar, ótimo. Se não conseguir, tem de continuar a trabalhar e a aperfeiçoar-se ainda mais.

A confiança do Nuno, depende daquilo que ele consegue fazer para atingir esse estado ótimo de confiança. Isto pode ser promovido através da implementação das crenças adequadas, associado à confiança técnica, física, tática e mental. Com todos estes aspetos em mente, o atleta sente que a sua confiança depende de algo que ele controla, que depende dele e da forma como  vai elevando e melhorando essas capacidades e competências. Esta é uma confiança que raramente é afetada por fatores exteriores.

Estado ótimo de funcionamento: Zona ótima de performance

Já referi anteriormente a Zona e o Flow. Refiro-me agora especificamente ao estado ótimo de funcionamento como algo que o atleta pode aprender e esclarecer-se com o objetivo de atingir um elevado grau de controlo sobre este estado e saber como funciona o seu corpo para ir aperfeiçoando o seu próprio funcionamento (do atleta). É no fundo atingir o seu estado de forma.


Mudança de estratégia em combate

Quando o Nuno está em combate e está a perder por pontos, ele consegue mudar de estratégia no sentido de reverter a competição a seu favor. Treinando um leque alargado de opções, em momentos críticos em competição, e caso o atleta se aperceba que está a passar por dificuldades, é possível fazer correr um outro programa mental para mudar a estratégia. Em momentos, como por exemplo, apertar o cinto, o atleta pode conseguir entrar rapidamente num estado profundo de concentração e accionar a estratégia “B” previamente estudada e treinada.

O Nuno visualiza por breves momentos a estratégia que quer aplicar, esperando que o seu corpo reage a isso de forma automática, sem necessitar utilizar palavras. Utilizar a visualização é uma técnica muito eficaz porque é mais rápida. Orienta a tarefa em curtos espaços de tempo. Tal como a célebre frase: “uma imagem vale mais do que mil palavras”. No caso do judo tem todo o significado, pela utilidade que tem de poder ser utilizada quando o tempo para pensar é escasso.

Para aprofundar o assunto, pondere ler o artigo: Como combater os momentos críticos em competição

Visualização para orientar tarefas e eficácia de movimentos

Partindo do princípio que a visualização é uma técnica mental eficaz para a orientação de movimentos técnicos de judo, damos um elevado valor e dispêndio de tempo ao seu aperfeiçoamento. A utilização da visualização serve para aumentar a eficácia e intenção da aplicação das técnicas que se fazem em combate. Ao utilizar-se a visualização como orientador e indicador da técnica a aplicar, devem-se utilizar boas imagens dos movimentos motores.

Não se deve visualizar apenas a técnica que se quer fazer, mas sim visualizar a técnica total, até ao final do movimento e finalizando a técnica com o seu objetivo (derrubar o adversário). Visualizar a aplicação da técnica e o resultado dessa técnica, que é derrubar o adversário. O atleta tem de ver -se a ele próprio a projetar o adversário.

Ao aplicar eficazmente a visualização os movimentos são potenciados e decorrem com um maior ímpeto, mais força e mais fluidez. Tal como o Nuno relata, os movimentos são aperfeiçoados através de pensamentos construtivos, através dos detalhes, como por exemplo: “eu vou agarrar para projetar”. Isto deve ser aplicado em treino, para que a técnica seja executada com o máximo de detalhes e pormenores possíveis, para que o cérebro programe essas técnicas de forma eficaz e para que no dia da competição se efetuem automaticamente.

Explicação técnica: Atenção, acredito que qualquer atleta pense para si e tenha a intenção de agarrar para projetar, no entanto, isso não impede que possa estar a cometer erros de visualização e consequentemente técnicos. Existem várias formas de transmitirmos a nós mesmos as intenções motoras. O atleta vai construindo um padrão mental mais ou menos consciente daquilo que deve fazer e como fazer. É no como fazer, que tem de ter especial atenção. O atleta pode pensar através de imagens, mas pensar em movimentos parciais. Passo a explicar, quando me refiro a movimentos parciais, falo especificamente de segmentos físicos, como o braço, o tronco, as mãos, as pernas. Se o atleta pensar de forma muito analítica, até consegue executar a técnica de forma perfeita mas sacrificando a eficácia. Desta forma, é mais eficaz transmitir a si mesmo através de imagens o resultado final dessa técnica. Ao dar esta indicação a si mesmo, o corpo vai reagir intencionalmente e seguir a ordem dada, que é executar uma sequência de movimentos previamente treinados, com o máximo de ímpeto, força e agilidade.

A visualização pode ser treinado de várias formas e aplicada a vários métodos. Um dos métodos que apliquei e fui desenvolvendo com o Nuno, foi a auto-hipnose.

Para aprofundar o assunto da auto hipnose, pondere ler os artigos:

Impacto dos aspetos psicológicos nas expectativas do atleta

O Nuno relata que é preciso sonhar, que é preciso arriscar. O Nuno tenta sempre arriscar, pensando aplicar a sua melhor prestação. O Nuno é ambicioso e isso materializava-se na visualização do pódio, fornecendo-lhe ainda mais energia, tal como ele refere no vídeo. O atleta acredita sempre que ganhar uma medalha é sempre uma possibilidade. É importante que o atleta leve para o tapete a possibilidade de fazer o melhor resultado possível que vai de último classificado a primeiro.

O Nuno foi para o Campeonato do Mundo pensando na sua melhor prestação possível, deixando as expectativas em aberto. O Nuno ficou com a sensação que fez o melhor que lhe foi possível com o seu nível de judo.

O atleta deve tentar colocar-se no seu melhor estado, pensando para onde quer ir, que resultado quer obter, e o que pretende fazer.

Tal como o Nuno referiu: “Se tivermos pensamentos negativos, obtemos resultados negativos.  O corpo vai reagir a cada pensamento que nós temos. Se nós dizemos que queremos fazer algo ele vai ter uma certa reação.”

Aquilo em que o atleta se foca expande-se. Se nos focamos no receio ele expande-se, se nos focamos na capacidade de exprimir o melhor judo possível, isso vai-se sentir de forma aumentada. Independentemente se é num campeonato regional, campeonato nacional ou campeonato do mundo.

Dica: O corpo está à escuta da mente.

A mente deve transmitir ao corpo o resultado que pretende alcançar. O atleta deve saber que estratégias deve accionar para colocar-se na sua zona ótima de competição para aumentar drasticamente a eficácia. Mas isto só é possível, se o atleta não estabelecer limitações a si mesmo, por exemplo pensando que não tem hipótese de ganhar. Mesmo que subtilmente o atleta pense não ter possibilidade de não conseguir ganhar, será automaticamente afetado, pois não conseguirá chamar até si todos os recursos. Isto porque serão bloqueados por uma mensagem subtil que enviou a si mesmo, essa mensagem levava informação de dúvida, fazendo autossabotagem.

Num estado de dúvida, e de receio, vão existir interferência de pensamentos e crenças negativas impedido que o atleta consiga aplicar o seu melhor nível de judo.

Focar-se no que é importante para colocar-se no seu melhor estado de recursos

No sentido de gerir e regular de forma adequada as expectativas é importante o atleta saber onde deve focar a sua atenção e recrutar os conteúdos psicológicos e técnicos. As expectativas pertencem ao âmbito das crenças, não devem estar demasiado presentes (conscientes) nos momentos que antecedem o combate ou mesmo durante o próprio combate. Essas crenças devem pertencer sim ao atleta, estarem já implementadas na sua mente, sem ser necessário estar a relembrar-se disso constantemente.

O que importa é que o atleta consiga através dos gatilhos e âncoras já referidos atrás, de forma rápida, fluída e sem grande esforço mental, conseguir atingir o seu melhor estado de recursos, num processo eficiente e que se consiga recrutar em tempo útil.

Promover a melhor possibilidade para ganhar

Nesta conversa informal que tive com o Nuno Saraiva, fomos descrevendo de forma prática a nossa experiência na implementação de um programa de preparação mental para o máximo rendimento no judo. Enquanto preparador mental de atletas e equipas, considero de uma grande mais valia o treino das estratégias psicológicas como potenciadoras de resultados de excelência. O objetivo é promover a melhor possibilidade para o atleta ganhar.

A psicologia em geral e especificamente a psicologia do esporte possuí na atualidade recursos eficazes que contribuem largamente para a melhoria do rendimento desportivo. Aplicar esses recursos no treino diário é uma enorme vantagem competitiva!

Agradecimento

Agradeço ao Clube de Judo da Marinha Grande a disponibilização do seu ginásio. Um especial agradecimento ao Nuno Saraiva pelo enorme contributo que deu para a construção deste Guia Explicativo dos Aspetos Psicológicos para o Máximo Rendimento Desportivo.

Parabéns Nuno Saraiva pelo seu excelente resultado alcançado no Campeonato do Mundo de Juniores. Desejo-te excelentes performances.

Sucessos para todos os JUDOCAS!

Abraço,

Miguel Lucas

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Comentários
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Nuno Saraiva

Olá Miguel,

Parabéns pelo post, contém muita informação e muito importante, mas é preciso utilizá-la e saber utilizá-la para se conseguir chegar ao sucesso. É preciso querer, acreditar, fazer, falhar, voltar a fazer, para finalmente se conseguir aquilo que realmente ambicionamos!
Espero que tenha ajudado com a entrevista e que corra tudo bem.

Obrigado por toda a ajuda de amigo e de treinador,
Abraço.
Nuno Saraiva.

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Miguel Lucas

Olá Nuno, obrigado pelo comentário

Sem dúvida que para as estratégias psicológicas poderem surtir o efeito desejado, devem ser aplicadas com a mesma seriedade do treino físico. Com método e programado no tempo.

Agradeço-te mais uma vez a tua participação, e que somes muitos êxitos desportivos.

Abraço

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Aurelio Ferreira

Parabens Nuno, parabens Miguel,

Sou um fã do Nuno desde sempre e acredito que a sua vontade irá leva-lo muito longe. Rodeado das pessoas certas e com muito trabalho vais vencer todos os combates, não apenas no judo, mas na escola, na vida.

Como já tive oportunidade de te dizer conto estar no Verão de 2016 no Rio de Janeiro a apoiar-te.

Força, nunca desistas e acreditas que irás conseguir.

Um grande abraço

Aurelio Ferreira

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Miguel Lucas

Olá Aurelio, obrigado pelo comentário.

Espero que a tua crença no Nuno lhe possa dar ainda mais incentivo para continuar o excelente tralhado que tem vindo a realizar.

Abraço

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Nuno Saraiva

Olá Aurélio,

Obrigado e é sempre bom saber com quem posso contar para percorrer o caminho que tanto ambiciono, mas para isso tem que ser passo a passo, todos os dias, para nesse dia acontecer aquilo que tantas vezes visualizei!

Grande Abraço.
Nuno Saraiva.

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Fred

Parabéns! Excelente o material.

Fred Graef

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Miguel Lucas

Olá Fred, obrigado pelo comentário

Espero que o artigo e os vídeos lhe possam ser úteis.

Abraço

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Filipa Cavalleri

Caro Miguel, sou treinadora nacional do Nuno e acompanho-o à cerca de 2 anos. Tenho de alguma forma acompanhado de perto o seu trabalho, seja através do nuno, mas tambem falando algumas vezes com o seu treinador e pai, António Saraiva. Creio, que as competências psicológicas a desenvolver nos atletas são de extrema importância e que devem ser levadas e encaradas como um aperfeiçoamento, tal como acontece com o treino físico, técnico, etc…
Eu durante o meu percuso enquanto atleta e que foi bastante tempo, tive sempre acompanhamento psicogico e como tal, a vossa entrevistas segue uma lógica que me parece importante e que devem ser partilhada, pois existem muitas pessoas que têm outras interpretações do que poderá ser um trabalho regular, sistemático ao nível da psicologia.
Nada melhor, do que mostrar em jeito de sintese o que é feito no dia a dia…. tal como tudo, não se toma um comprimido e de repente vamos ter sucesso…. foi bastante pertinente o facto de terem realçado que desenvolvem esta relação à já alguns anos…e que só assim é possível… que o Nuno se tenha sentido como ele próprio o descreveu …. nunca me tinha sentido assim… muitas vezes não conseguimos explicar porque estamos diferentes, mas isso é resultado de um trabalho de casa muito importante.. muitas coisas teria a dizer…. mas penso, que é importante, este trabalho «invisel» que está a fazer com o nuno e que certamente ele vai estar mais bem preparado, com mais ferramentas para poder disputar outros desfios que se avizinham.. da minha parte, os meus parabéns e boa continuação do trabalho.
Fililpa Cavalleri
Treinadora Nacional cde judo

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Miguel Lucas

Olá Filipa, obrigado pelo comentário.

É com grande apreço que leio as suas palavras de reconhecimento da importância dos aspetos psicológicos no treino desportivo e mais concretamente no Judo. Cada vez mais no treino sistemático e exigente que se pratica na atualidade, o uso de determinadas competências psicológicas potenciam todo o trabalho realizado dia a dia.

É com algum pesar meu, que a nível Nacional e não só no judo, ainda não seja uma prática frequente e usual a programação das estratégias psicológicas incluídas no treino dito físico.

Pela experiência que a Filipa teve como atleta e na área do acompanhamento psicológico, é para mim muito significativo a sua opinião favorável à importância que o treino mental sistematizado pode ter no rendimento dos atletas.

Fico esperançado que cada vez mais atletas do judo possam beneficiar do conhecimento já bastante vasto da eficácia das estratégias psicológicas para o máximo rendimento desportivo.

No que diz respeito ao Nuno, iremos continuar a trabalhar no sentido dos sonhos do atleta poderem tonar-se realidade.

Desejo de ótimos resultados desportivos para os atletas que acompanha.

Abraço

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Faville Lopes De Oliveira

Olá Miguel,

Gostei muito do seu trabalho, estou terminando o curso de psicologia e estou fazendo um trabalho para conclusão de curso e estou querendo falar justamente como a psicologia pode ajudar o atleta de judô a melhorar o seu desempenho. Você teria alguma dica para me dar por favor! Obrigado desde já!

Faville Lopes!

favillelopesdeoliveira@gmail.com

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