Os pais e educadores são a parte mais importante do desenvolvimento do cérebro da criança. E para fornecer as ferramentas que possam promover o sucesso, você não tem de inundar a criança com quantidades massivas de informação na esperança que se torne super inteligente. O desenvolvimento da autoconsciência é o fator diferenciador para que a criança adquira competências úteis para a sua vida. O córtex pré-frontal é uma das áreas do cérebro mais sensível à interação parental, e para as crianças terem sucesso (ou seja, sentirem-se conectadas, motivadas, felizes e produtivas), um córtex pré-frontal bem desenvolvido irá ser o terreno fértil para o crescimento e desenvolvimento saudável.
Regular as emoções em consciência
Especificamente, o córtex pré-frontal oferece a possibilidade de regular as emoções. Esta capacidade faz com que objetivos de longo prazo possam ser assegurados, porque quando se enfrenta a frustração e a dificuldade e se começa a colocar os esforços em causa e a construir uma visão negativa, a regulação emocional permite manter-nos no caminho traçado.
Como praticamente qualquer parte do cérebro, quanto mais for usado quando se é criança, mais ele se desenvolve. Você quer que seu filho toque bem piano? Algeme-o a um piano. Você quer que ele seja jogador de futebol? Coloque uma bola de futebol no seu berço, (os dois exemplos anteriores não são recomendações, mas são utilizados de uma forma bem-humorada para ilustrar a importância da prática de algo para ser-se bem sucedido). Infelizmente, você não pode simplesmente dizer à criança para usar o seu córtex pré-frontal, ou forçá-lo a isso.
Então, como conseguir que a criança use o seu córtex pré-frontal (consciência)? Bem, da mesma forma que aprendem todas as outras coisas, observando você. Portanto, a melhor maneira de ajudar a criança a desenvolver esta parte do cérebro, é através do exemplo.
Como é que o seu filho reage se você não deixar que coma cereais com chocolate no café da manhã, ou fazer outra coisa que ele queira? Você pode dizer-lhe para não ficar triste ou chateado, e talvez de vez em quando ele realmente oiça e siga o que você lhe diz. Mas se você se irritar e ficar chateado quando não acontece o que você deseja, então boa sorte. A criança aprende por observação, o seu cérebro absorve e imita o comportamento humano como um esponja (ou seja, de forma rápida e automaticamente). Pense nisso, eles aprendem português apenas ouvindo você e as outras pessoas falarem.
Então, se você ficar chateado quando alguém fez uma manobra incorreta no tráfego, adivinha quem está prestando atenção? E não é apenas a tomada de decisão, é toda a reação emocional que você teve. Você poderia apenas comentar a imprudência do outro condutor, sem partir para o ataque verbal, evitando assim a manifestação de irritabilidade e tensão, a criança estaria a aprender a ser ponderada nas suas reações aos erros dos outros.
As crianças aprendem muito mais por imitação do que pela instrução. Se o pai usar o grito para comunicar, e fica facilmente frustrado quando não obtém o que pretende, não é surpresa nenhuma se o seu filho agir dessa forma. Se a mãe fica hiperansiosa quando o seu filho está frustrado ou decepcionado, a criança também vai ficar hiperansiosa ao presenciar essas emoções fortes. A mãe que é capaz de ser um pouco mais calma será mais provável que seja capaz de ajudar o seu filho a saber como manter a calma quando ele sentir frustração e decepção.
Seja qual for o seu nível de reatividade emocional, especialmente na suas interações com as crianças, elas vão começar a imitar o que observam. De acordo com a informação anterior, você pode aumentar o seu nível de consciência, verificando que comportamentos está passando para as crianças:
- Quando alguém, especialmente o seu filho, faz algo que fere os seus sentimentos, você responde com fúria?
- Quando as coisas não saem do seu jeito, você fica extremamente triste e abatido?
- Quando os acontecimentos estão fora do seu controle, você torna-se estressado e ansioso?
- Quando o seu filho não faz o que você quer, você fica irritado?
Em todas essas situações, você pode fazer uso dos poderes da regulação das emoções do córtex pré-frontal (consciência), e assim, ensinar a criança a usá-los. A regulação da emoção é um processo pelo qual podemos controlar quando e onde as emoções são expressas. É saudável experimentar todas as emoções, mesmo as emoções mais fortes e arrebatadoras, mas para ser bem-sucedido socialmente, na grande maioria das vezes é necessário saber expressar as respetivas emoções em momentos apropriados.
Agir reflexivamente
Nos seres humanos o córtex pré-frontal é, essencialmente, a terceira parte frontal do cérebro, que é segmentado num grupo de sub-regiões. Há muitas sub-regiões que contribuem para a regulação emocional. No entanto, de uma forma mais prática e simples, o que importa saber é que para ativar essas regiões, basta simplesmente usar o processo de autorreflexão (concentração da mente sobre si mesmo, para avaliar as próprias ideias, sentimentos, ou seja, reflexão sobre si próprio).
Este processo também pode ser chamado de atenção plena (mindfulness). Para usar o processo de autorreflexão comece a perceber as suas emoções e estado emocional e como elas afetam o seu comportamento.
Considere que, nas suas interações com as crianças, assim como todos as outras pessoas na sua vida, você está agindo reflexivamente ou reativamente. Agir reativamente significa que você deixa o sistema límbico (sistema responsável pelas respostas emocionais) assumir o controle dos seus comportamentos. Quando você é criança isso pode significar algo como: “Você levou o meu carrinho de brincar, então agora eu vou bater em você“.
Quando você é adulto pode ser mais sutil: “Você interrompeu-me na reunião, então agora eu vou dificultar o seu trabalho.” O sistema límbico trabalha muito a um nível de estímulo-resposta (sem reflexão). Não é uma forma muito evoluída de agir.
O problema com a reatividade do sistema límbico, é que não se preocupa com os seus objetivos de longo prazo. Apenas reage aos seus sentimentos no momento. Assim, as suas ações são motivadas pelo seu estado emocional, ao invés de ser pelos seus objetivos, ou pelos seus valores, ou grau de importância das suas relações com os outros.
Ao aumentarmos a consciência dos nossos estados internos (emoções, sentimentos e pensamentos), automaticamente diminuímos a atividade do sistema límbico. Simplesmente tornar-se consciente do seu estado emocional negativo pode contribuir para reduzir o seu impacto negativo.
Para aprofundar o assunto, leia: Consciência emocional, validar emoções e pensamentos para seu benefício
A antiga habilidade de contar até 10 antes de responder a uma situação que nos irrita, permite acedermos à consciência. O próprio ato de reconhecer que você está furioso e necessita de contar até 10 ativa as regiões cerebrais que são necessárias para controlar a raiva.
Agora com estas informações na sua posse, não se estresse sobre isso, porque se você agir dessa forma vai afetar negativamente o desenvolvimento do cérebro do seu filho. Seja ponderado nas respostas emocionais na presença das crianças. Tome consciência do estado do seu corpo, esforce-se por ficar ciente se o impulso para a ação gerado pelo seu sistema emocional irá gerar um comportamento exemplar para o seu filho.
Ao fazer este exercício, você permite que o seu córtex pré-frontal pondere uma resposta mais assertiva. O que equivale a dizer que está a ensinar o seu filho a forma correta de regular as emoções dele.
Se a autorreflexão sobre as suas emoções não vem naturalmente, isso não é problema. Com a prática você pode ficar melhor. Faça isso pelas suas crianças.
Abraço,
Miguel Lucas
muito bom Lucas, você sempre surpreende nos seus artigo.
Miguel Lucas, amei esse post…daí que percebemos como precisamos nos monitorar sempre,pois fazendo uma auto-reflexão conferimos alguns comportamentos do sistema límbico (reativo) …que não é interessante deixar transparecer aos nossos filhos.
Tenho uma menina de 7 anos e, obviamente, quero que ele seja bem resolvida emocionalmente para ter mais chances de sucesso na vida…então, preciso ser um espelho que reflita mais ponderação e autocontrole.
Gostei mesmo vou compartilhar.Obrigada
Olá Luciana, Obrigado pelo comentário.
É sempre recompensador perceber que aquilo que escrevo vai ao encontro da necessidade de muitas pessoas, e que entendem o valor da aplicabilidade do conhecimento nas suas vidas.
Fico esperançado que o seu esforço na educação da sua menina seja bem sucedido. Será certamente 😉
Abraço,
Sou psicopedagoga e estudante de psicologia e mãe de 3 filhos, amei seu artigo e comprovei isso na minha prática de vida. Parabéns!
Muito bom seus artigos!!
Amei,Deus te abençoe sempre e Obg por esses artigos tão bons para minha vida.
Olá miguel, como já disse anteriormente em outros comentários, tudo o que você ensina, seja sobre filhos ou seja sobre adultos, ou qualquer outro tópico, está vindo de encontro a todas as minhas necessidades psicológicas com uma clareza muito grande. Tenho a certeza que não foi por acaso que navegando pela internet acabei parando no seu site. Se existe um Deus, eu tenho a certeza que foi Ele que te colocou no meu caminho,ou seja: você é um anjo que caiu do céu para a minha vida. Obrigado a Deus e obrigado a você por ser essa pessoa inteligente e humana que ajuda pessoas como eu e muitas outras através do seu conhecimento aqui divulgado. Sem sombra de dúvida você merece tudo de bom por ser essa pessoa simples e que divide informações valiosas gratuitamente ajudando várias pessoas nesse mundo, sendo eu uma que você já está ajudando muito através das suas palavras e do seu conhecimento. Espero um dia poder me consultar com você pelo skype, pois no momento não tenho condições financeiras o suficiente, mas acredito que o meu trabalho vai melhorar e vou poder começar um tratamento diretamente contigo. Um grande abraço.
Olá, adorei os artigos e gostaria de levar seu conhecimento para os pais dos alunos com quem trabalho. Existem videos com os mesmos temas para que eu possa expor para esses pais? Muito grata e Sucesso sempre!!