Preparação Mental nos Esportes de Combate
Psicologia do Desporto 22/09/2016

Preparação Mental nos Esportes de Combate

Miguel Lucas Publicado por Miguel Lucas

Um cliché muito utilizado é que a atividade desportiva é 10% física e 90% mental. Pessoalmente acho esta estatística exagerada, e certamente não existirá uma forma fiável de podermos medir a importância relativa dos dois fatores. Mas arrisco a dizer que a condição mental e a condição física se encontram intrinsecamente ligadas, fazendo um elemento único fundamental para a boa performance.

A primeira vez que tive contacto com os esportes de combate foi no meu percurso militar como Fuzileiro. Pratiquei judo e boxe, estes dois esportes faziam parte integrante da preparação desta tropa de elite. Aqui experienciei a violência dos golpes físicos, mas também as consequências de perder a calma, a concentração e o objetivo principal – ser eficaz e derrubar o adversário. Rapidamente percebi que não bastava estar bem preparado fisicamente, mas que a estratégia mental como enfrentava o adversário era preponderante para a eficácia dos golpes. Este entendimento foi decisivo durante toda a recruta militar, pois eu era bastante competitivo, e ser bem-sucedido era uma palavra de ordem.

Aprendi ainda, que apesar de estar numa tropa de elite, não é necessário ser-se “herói” ou ter um nível de preparação física extremamente elevado para se ser bem-sucedido. Aquilo que fez a diferença relativamente aos que não conseguiram terminar o curso, foi a força de vontade, a motivação, a resistência à dor e a capacidade de sacrifício que tinham. Os que ficaram pelo caminho tinham igualmente boas capacidades físicas, mas faltavam-lhes as mentais.

Fatores psicológicos são diferenciadores

Pesquisas efetuadas com atletas de nível olímpico e outros atletas de elite, mostram-nos que os fatores psicológicos aumentam o seu grau de importância na performance à medida que o nível do atleta vai evoluindo e a exigência competitiva aumenta. A grande maioria dos atletas passa a grande parte do seu tempo, se não a totalidade, a treinar os aspetos físicos em detrimento dos aspetos mentais.

É importante referir, especialmente para atletas lutadores que o desenvolvimento dos aspetos físicos atinge um pico de evolução mais prematuramente que o condicionamento mental. Todos já observámos combates ou lutas em que fisicamente os oponentes estão com níveis de desenvolvimento físico idênticos, mas com performances desportivas em competição muito distintas.

Então, Isto deve-se a que fator?

Certamente a níveis de desenvolvimento ou preparação mental também distintos. Existirá sem dúvida diferenças muito significativas na abordagem competitiva, ao nível da confiança, concentração, impetuosidade e tenacidade mental.

As diferenças serão ainda mais significativas para quem treina de forma comprometida com a competição e quem treina por diversão e entretenimento. As características entre estes dois tipos de praticantes serão também elas bastantes significativas. Mas em que aspeto? À partida que características saltarão mais à vista?

Acredito que muitos dos atletas que fazem apenas por entretenimento, estejam em plenas condições físicas para combater! Mas com que nível de eficácia? É que para aumentar os níveis de eficácia de movimentos explosivos e precisos, um conjunto de características mentais têm forçosamente que dar suporte a toda a parte física e técnica.

A psicologia desportiva aplica métodos e princípios que permitem aumentar o rendimento e a performance dos atletas, que efetivamente queiram melhoram e se sintam motivados para cumprirem uma auto-disciplina mental rigorosa. A implementação de um programa de treino mental ao treino físico, não funciona como magia, nem é isso que se pretende.

O objetivo principal é fornecer e ensinar um conjunto de estratégias mentais que potenciem o treino desportivo (capacidades já existentes), assim como poder implementar outras que possam não fazer parte do repertório do atleta. Estas estratégias pressupõem a eliminação de algumas barreiras ou dificuldades que o atleta possa apresentar e se verifiquem ser um impedimento ao seu progresso, assim como implementar outras que projetem o atleta para um nível competitivo superior.

Aquilo que os atletas de desportos de combate (esportes de combate), citando apenas alguns (Karate, Judo, Jujitsu, Aikido, Iaido, Kobudo, TaeKwondo, Kung Fu, Capoeira, Sumo, Boxe, Muay Thai, Kickboxing) devem entender sobre a importância do treino mental, é que existem um conjunto de intervenções que já provaram, quer em investigações quer no próprio local de combate, serem de grande importância para a melhoria do rendimento. Não serão as mesmas para todos os atletas, assim como o treino físico não será igual para todos. Se você explicar e ensinar uma “chave de braço” a um atleta noviço, provavelmente não esperará que ele o execute na perfeição depois de apenas uma lição.

Os lutadores facilmente percebem o porquê desta situação, é que são precisas muitas horas de treino físico para se chegar a eficácia de uma técnica. Mas na grande maioria das vezes assumem que as estratégias mentais ou que o treino mental, como a concentração, o controle dos níveis de ativação e excitação, o foco atencional, a gestão da ansiedade ou a tenacidade mental, deverão ocorrer naturalmente, ou que não podem ser aprendidas. Isto é um erro. As estratégias mentais podem ser aprendidas, mas para chegarem ao nível de serem eficazes requerem prática, tal como o treino físico.

Fatores psicológicos na prática

Ao nível mais básico existem 3 estratégias que fazem parte das componentes dos desportos de combate(esportes de combate) que são afetadas e influenciadas pelos fatores psicológicos. Você pode melhorar todas elas: Pensamentos (cognições); Sentimentos (emoções) e físicas (somáticas). Cada uma destas componentes afeta as outras de diversas formas e em situações diferentes. Um pensamento comum é: “O que é que acontece se eu perder?” ou “A minha família e os meus fãs estão aqui, eu irei deixá-los desiludidos e sentir-me-ei humilhado”.

Este tipo de pensamento pode ser muito incapacitante e causa certamente de forma imediata sentimentos de nervosismo, ansiedade e dúvida. Nesse exato momento o atleta irá sentir sensações físicas, como perda momentaneamente de energia, batimento cardíaco acelerado, hiperventilação ou náuseas. Mas este ciclo sabotador não termina aqui, a mente do atleta irá interpretar os sintomas físicos experienciados como um sinal de que o seu corpo está em perigo ou com problemas, não lhe transmitindo sensações de capacidade e eficácia.

O atleta começa a pensar: “Oh meu Deus, estou tramado” ou “Eu vou “morrer” aqui mesmo”. Isto como é óbvio ampliará ainda mais a ansiedade, o medo e a fraqueza sentida, o que fará com que o seu corpo continue a reagir de forma negativa, entrando numa espiral da desgraça, ficando o atleta numa situação bastante crítica.

Se pretende melhorar alguns destes aspetos leia o artigo que escrevi sobre este tema: 8 regras para criar pensamentos capacitadores.

Este ciclo incapacitante não tem necessariamente de começar com um pensamento, pode começar igualmente com um sentimento, talvez de falta de confiança, ou uma sensação física, como borboletas no estômago. Se este ciclo não for identificado e inibido, pode ganhar vida própria e controlar por completo a performance do atleta. Então perante um cenário deste tipo o que pode o atleta fazer?

Assim como na estratégia de luta o atleta deverá preparar-se para o que poderá acontecer em competição e construir um conjunto de habilidades para responder de forma eficaz em situações de pressão. A intervenção dos psicólogos do desporto (psicólogos do esporte) assim como a implementação de um programa de preparação mental no treino tem por objetivo o desenvolvimento do controle dos seus pensamentos, sentimentos e corpo, perante a pressão do adversário.

Em competição, o atleta irá saber como direcionar todo este processo, ao invés de apenas reagir, na grande maioria das vezes de forma desadequada afetando-lhe o rendimento. Um bom lutador nunca entra no ringue ou na arena, sem se ter treinado e a pensar: “vou ver se ele ataca e se…, por isso vou tentar de alguma forma contra-atacar.”

Um bom lutador prepara-se de forma rigorosa e exaustiva, desenvolvendo planos para tantos cenários quanto possível, e desenvolvendo as habilidades necessárias para conseguir executar esses planos antes de entrar em competição. As estratégias mentais ou psicológicas não requerem menos preparação nem menos atenção do que todos os outros aspetos do condicionamento físico.

Como é que o atleta pode trabalhar e resolver o problema?

Usando a teoria que apelido de: Estados incompatíveis entre si. Passo a explicar, quando o atleta direciona intencionalmente os seus pensamentos, emoções e ações motoras, coloca-se num estado de grande capacidade (Zona Ótima de Funcionamento), ficando muito menos vulnerável à influência negativa induzida pela atitude que adota quando apenas reage ao seu adversário. Estrategicamente é como mudar o ritmo de ataque ou transmitir uma atitude de, “ estou aqui para aplicar a minha luta”.

Se o atleta estiver ativamente envolvido com as suas autoverbalizações positivas e capacitadores, é praticamente impossível simultaneamente estar a ter pensamentos derrotistas.

Se o atleta se sentir confiante é muito difícil em simultâneo sentir-se ansioso. Estes estados são incompatíveis entre si. Se o atleta estiver num estado de relaxamento, não consegue simultaneamente estar tenso. As três componentes anteriormente referidas, encontram-se interrrelacionadas, se o atleta tiver um controlo positivo sobre uma, irá automaticamente influenciar as outras, seja para um estado de capacidade ou um de derrota.

Nos programas de preparação mental que aplico, utilizo uma expressão com os atletas que expressa o que aqui descrevi: “o corpo está à escuta da mente.” Tudo o que dizemos e sentimos tem um reflexo nas nossas ações, será tanto mais capacitador quanto melhor forem as indicações intencionais dadas a si próprio por parte do atleta.

Citação a reter: Uma mente ansiosa não pode existir num corpo relaxado.” – Edmund Jacobson

AUTOMONITORIZAÇÃO DAS HABILIDADES

Se um dos objetivos do lutador é ter controlo sobre os seus pensamentos, emoções e estado físico, terá que inicialmente aprender a estar consciente disso. O lutador terá de perceber como é que cada uma destas componentes funciona, antes de as poder mudar de forma eficaz e vantajosa. Terá ainda de perceber as estratégias que melhor funcionam ou podem vir a funcionar, assim como aquilo que deverá alterar ou implementar para que possa melhorar o seu rendimento, e acima de tudo que consiga perante a exigência da competição expressar tudo o que adquiriu em treino para que consiga alcançar um grande desempenho.

Existem algumas formas de o poder fazer. Apresento em seguida um conjunto de perguntas em formato de questionário, não existem respostas certas nem erradas, mas sim o que o atleta pensa ser aquilo que acontece com ele.

O atleta necessita de identificar a forma como pensa, sente e se comporta para ter o seu melhor desempenho. Depois precisa identificar o que fazer para se colocar no seu estado mental ideal para competir (o que necessita fazer para “carregar” o seu modo competitivo). Para que o possa ajudar neste processo precisa tentar recordar algumas competições passadas.
Responda às questões que se seguem para que o ajudem a construir o estado mental competitivo que funciona para si.

Pense numa das suas melhores competições no último ano e responda ao seguinte:

  • 1- Como é que se sentiu minutos antes do combate?
    Nada activado (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) muito activado
    Nada preocupado /sem medo (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) extremamente preocupado
  • 2- O que é que estava a dizer ou a pensar para si minutos antes de iniciar o combate?
  • 3- Como é que foi a sua concentração durante a competição? Em que é que prestou atenção durante a competição?

Agora, pense numa das suas piores competições no último ano e responda ao seguinte:

  • 4- Como é que se sentiu minutos antes do combate?
    Nada activado (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) muito activado
    Nada preocupado / sem medo (1 2 3 4 5 6 7 8 9 10) extremamente preocupado
  • 5- O que é que estava a dizer ou a pensar para si minutos antes de iniciar o combate?
  • 6- Como é que foi a sua concentração durante a competição? Em que é que prestou atenção durante a competição?
  • 7- Quais são as diferenças que encontra relativamente aos seus níveis de energia e aos seus pensamentos antes destas duas competições? E na sua concentração e atenção?

Faça uma revisão das suas respostas. Em particular, nas diferenças que encontrou entre os seus pensamentos, concentração e níveis de energia antes da sua melhor competição comparativamente com a pior. Como é que você prefere pensar/ sentir antes de competir? Em que é que prefere concentrar-se antes e durante a competição? Com estas “coisas” em mente, tente agora perceber e/ou construir um conjunto de estratégias que o ajudem a alcançar o seu estado mental ótimo.

Por exemplo, se para se sentir bem e a competição lhe correr bem tem de se colocar num estado intenso e agressivo, tente identificar algumas coisas em que pensa, diz, e faz que o ajudam a ficar nesse estado. Ou se fica demasiado ansioso ou nervoso quando pensa sobre a competição, tente perceber o que é que faz para se distrair antes da competição (ouvir música, falar com os amigos, estar sozinho, ver os combates dos adversários, etc.)

  • 8- Antes de você competir o seu estado mental ótimo consiste em:
  • 9- Estratégias que o ajudam a atingir o seu estado mental ótimo incluem:

O objetivo do exercício proposto pretende que o atleta tome consciência do conjunto de estratégias que possam funcionar para potenciar o rendimento desportivo. Tomar consciência do corpo, dos pensamentos, aquilo que pensa e como pensa, e aquilo que sente em diferentes fases da sua preparação. A capacidade de auto-monitorização pode ser aprendida com a prática. O atleta pode começar a monitorizar e a registar todas estas coisas durante o treino de forma a que descubra alguns gatilhos ou pistas relevantes que melhorem a performance.

O atleta pode criar um diário de registo em que de forma resumida possa tomar alguns apontamentos depois do treino descrever os seus pensamentos, sentimentos e estados físicos que ocorreram, como você respondeu, e como eles afectaram o seu desempenho. O autoconhecimento vai ajudar o atleta a identificar os estados psicológicos positivos que pode criar, desenvolver, construir e reconhecer os pensamentos negativos, sentimentos e estados que podem interferir com o seu desempenho, para que possa desenvolver um plano para corrigi-los.

Estratégias mentais para melhorar a performance esportiva

Se tem sentido algum tipo de dificuldade para alcançar todo o seu potencial e pretende melhorar, aqui mesmo no site poderá ter acesso a sessões de Psicologia Dsportiva Online comigo.

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QUE ESTRATÉGIAS USA?

Partilhe mais em baixo nos comentários, algumas da estratégias que usa, ou alguma situação que lhe tenha acontecido que julgue ser preponderante para si ou para outros atletas.

Bons combates.

Abraço,

Miguel Lucas

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