O que acontece quando nós experimentamos uma perda? Quando somos abalroados pela natureza da vida, pelo seu fluxo e pela sua imposição? No momento da perda, uma parte do que nós reivindicamos como sendo a nossa vida, corpo, ou coisas desaparece. Nós sofremos com isso. Sentimo-nos feridos. Podemos sentir-nos diminuídos ou “menos do que éramos” antes da perda. Um turbilhão de sentimentos invade-nos o espírito como se tivéssemos sido arrastados por um tornado. Sentimos o chão a fugir-nos debaixo dos pés. Ficamos confusos, resignados, perdidos, à beira do desespero e tentamos a todo o custo encontrar um significado lógico para o sucedido. Procuramos, mas na grande maioria das vezes não encontramos. Forçamo-nos a perspectivar um caminho que faça sentido.
De acordo com o dicionário online de português, perda, significa: Ato ou efeito de perder ou ser privado de algo que possuía. Diminuição que alguma coisa sofre em seu volume, peso, valor. Prejuízo financeiro. O ato de não vencer.
Perda não é igual a infelicidade
Eu falo com muitas pessoas que têm lesões terríveis e perdas de funcionalidade física, tão difícil que, em muitos casos, é surpreendente que tenham sobrevivido. Essas pessoas sabem que as suas vidas ficarão de certa forma e, a um determinado nível, condicionadas. Mas condicionadas, pode apenas significar deixar de viver algumas experiências, deixar de fazer algo ou interagir com algum ente querido que nos tenha deixado. Não quer dizer necessariamente perder significado na vida, deixar de ser feliz. A longo prazo, após uma perda, será que vamos ser menos felizes do que tínhamos sido antes?
É claro que esta resposta é pessoal. Cada pessoa responderá de acordo com a sua forma de ser, de ver o mundo e da capacidade que tem ou não para erguer-se acima da sua perda e perspetivar um caminho que volte a ter significado. Diferentes pessoas sentem de maneiras diferentes a perda. Contudo as nossas vidas não são estáticas. A vida não para depois de uma perda ou de um acontecimento catastrófico. E nós também não paramos de crescer e de nos desenvolver enquanto pessoas. Enquanto seres humanos temos em nós capacidade de nos organizarmos para compensar as nossas perdas e deceções e, criar novos caminhos e habilidades em face aos desafios.
Geralmente não estamos acostumados a pensar desta forma. Pensamos: perda é perda. Pensando desta forma sobre a perda, ou seja, ficar com a noção de que ficámos com menos, depende da forma como se mede a própria perda. Se eu perder uma quantia substancial de dinheiro, e só medir o dinheiro, então eu posso dizer, pelo menos por um tempo, que eu tenho menos dinheiro do que antes. E essa interpretação pode conduzir-me à infelicidade. Mas, se em vez disso eu medir toda a minha vida, o que a perda do dinheiro me ensinou? Que bondade e novas amizades eu poderia encontrar para eu lidar com a perda? Que novas habilidades eu poderia desenvolver em resposta à perda? O que novas fontes de receita poderiam essas novas habilidades trazer-me?
Aceitação da perda
Eu não pretendo transmitir a ideia de que a perda é em si mesmo algo bom. Eu também sei o que é a perda, o que é chorar a perda de alguém querido, de ficar destroçado com perdas profundas, físicas, emocionais e financeiras, conheço esse território muito bem. Com o tempo, porém, fui aceitando que as perdas são uma condição da vida, e que com o passar do tempo elas vão-se somando. Então, se é inevitável enfrentarmos algumas perdas ao longo da nossa vida, acredito que algumas devem ser choradas, sentidas e vividas tal como acontecem.
Existe um tempo para tudo. E passado o tempo de chorar, ou refletir sobre a perda, seja ela qual for, é tempo de olhar em frente.
É tempo de não acrescentar mais sofrimento a essa mesma perda. É tempo de minimizar os acontecimentos que teve na nossa vida e consequente impacto emocional, e fazer coisas para nos restabelecermos, fortalecermos e perspectivarmos um caminho. Um novo caminho que nos faça voltar a ter alegria de viver.
O que nos pode empurrar na direção de nos focarmos apenas nas nossas perdas, em vez de olhar para a totalidade das nossas vidas é a ideia de que nós devemos estar no controle do que nos acontece. Se acreditamos que podemos controlar as nossas vidas, ficando com raiva quando nos deparamos com a perda, passar o tempo olhando para trás tentando descobrir como tal coisa poderia ter acontecido e o que deveria ter sido feito para o evitar. Adotamos uma luta que pode ser inglória, visto que nos esforçamos para voltar exatamente para onde estávamos, em vez de descobrirmos o que está ainda para vir e para alcançarmos.
Relembro que a vida não é estática, e como tal, irão sempre acontecer situações que fogem ao nosso controle. Certamente essas situações, se forem negativas e originarem perda, geram igualmente angústia, deceção, tristeza, ressentimento, e outros sentimentos que nos fazem sentir mal. E isso é uma realidade, aceitá-la é uma condição para perspetivarmos um novo caminho.
Perante a perda e o infortúnio, ultrapassar a angústia gerada pelos acontecimentos é um objetivo importante. Para que o objetivo seja possível de alcançar é necessário libertar a mente e restaurar o equilíbrio emocional. A aceitação é um meio de alcançar a paz de espirito suficiente para perspectivar um caminho. Foque-se no objetivo, o caminho faz-se caminhando.
A importância de ter uma reação construtiva e positiva
Eu não estou sugerindo que você seja passivo acerca da sua vida. Nada disso. No entanto, depois da derrocada pode existir esperança. O que escolhemos fazer e a forma como nos influenciamos e incentivamos a nós mesmos molda a nossa vida e isso tem efeitos profundos sobre nós. Cada um de nós influencia o curso da sua vida, mas não a controlamos na totalidade. Perdas acontecem. As oportunidades surgem. Nós respondemos a essas oportunidades, ou não. É aí que a nossa influência acontece, em resposta aos acontecimentos o nosso controle possível toma o seu lugar.
Se tomarmos o trabalho como um exemplo. Ao longo das nossa carreira ou trabalho que vamos realizando, desenvolvemos um conjunto de habilidades, conhecimento e prática. Vamos trabalhando e aperfeiçoando todo um conjunto de habilidades. Podemos desenvolver projetos que obtêm sucesso e com isso vamos crescendo e ganhando reputação.
A economia influencia onde e no que vamos trabalhar. Vai-se treinando e aperfeiçoando uma profissão, como por exemplo a arquitetura ou engenharia, aprimorando a nossa reputação e respetivas habilidades. Um dia a construção pára. A construção sofre um retrocesso. Perde-se o emprego ou a solicitação de projetos diminui drasticamente. Nós não estamos no controle das forças económicas ou nas escolhas que as empresas fazem sobre o trabalho que pretendem investir.
E agora? Lamenta-se a perda. Nós olhamos para a perda do trabalho. Revoltamo-nos, indignamos-nos, achamos que somos vítimas. Tudo isso até pode ser legítimo, mas será que ajuda a resolver o problema? Certamente que não. Ao invés, podemos também olhar para outras formas em que as nossas vidas possam florescer e novas direções em que podemos crescer.
Não, não é fácil, mas dizer a nós mesmos que nunca voltará a ser como anteriormente, agarrando-se à sensação de perda, contando o que se foi e o que poderia ter feito com aquilo que se conquistou, não acrescenta nada de positivo e que possa ajudar a encontrar formas alternativas para que as nossas vidas possam ser mais ricas e satisfatórias do que já foram.
Nós podemos começar a encontrar estas formas gradualmente, deixando ir a ideia de que deveria ter evitado a perda de acontecer. Foi o que aconteceu. É um fato, é uma verdade, é uma realidade. Em seguida, cuidadosamente podemos abrir os nossos corações e tornar-se conscientes de que a nossa vida pode crescer e prosperar. Podemos tornar-nos mais do que fomos, independentemente da perda.
Abraço,
Miguel Lucas
Este artigo me faz lembrar de alguns momentos atrás em que eu sofria por insistir em um relacionamento findado já há quase 5 anos. Infantilmente esperava gratidão, ficava imaginando como eu seria diferente ao retomar essa relação.
Minha psicóloga disse " Nâo tem como perder o vc nunca teve", no momento pensei que ela falava da ex, mas era de mim pude perceber depois. Eu nunca tive um relacionamento porque nunca quiz ter.
No momento estou utilizando ferramentas mentais e espirituais para desapegar desse sentimento de vázio, até mesmo porque o vázio já existia mesmo quando a relação estava ativa.
Marcos Cordeiro
Olá Marcos, obrigado pelo comentário.
O fato de ganhar consciência do caminho a tomar relativamente aos seus objetivos e perceber o que foi que aconteceu no passado que o conduziu até onde se encontra hoje, é um passo enorme no seu desenvolvimento pessoal.
Força e coragem
Abraço
Gostava de agradecer todas as dicas que, preciosa e religiosamente sigo desde há algum tempo, através do vosso site.
Não tendo uma história diferente da maioria das pessoas, cada qual tem a sua dor e por ela sofre, luta e acredita ser a melhor para si.
Descobri, depois de muitos anos, aquilo que considero ser aquilo que vi espelhado neste artigo. Posso dizer que não é fácil, mas nada é quando se trata da nossa vida (e quando dela depende também o fato de termos que viver muitas vezes com as decisões, presença e verdades de terceiros).
A única coisa que por experiência posso partilhar é que aprendi que a vida é feita de pequenos passos no presente, e que quando queremos algo por acreditarmos que é possível, as coisas acontecem.
Certamente que o nosso tempo não é o mesmo quando tudo o que queremos é acabar com dor, sofrimento, perda, frustração, mas a verdade é que para tudo isso existem, e de acordo com aquilo que cada um procura, ferramentas, serviços, amigos, família (em resumo, recursos). Todos eles são validos quando vão de encontro aos nossos valores e princípios. Para tudo isso, considero vital compreender o nosso lugar no mundo, quem somos, o que queremos ser, qual a missão a que nos propomos.
Sei que não é fácil, mas é possível se o centro de tudo aquilo que queremos passa por ir de encontro ao que assumimos ser.
Não posso ser uma pessoa que espera gratidão por sofrimento, mas porque faço, sou e sinto que esse é o meu papel, desde que isso não seja desconfortável para mim.
Não posso esperar de pessoas que nunca mostraram respeito por mim algo mais que não respeito p ser diferente.
Se mantiver esta linha de pensamento, o impacto sobre as açoes do outros, que são inevitaveis, é menos castrador, não me magoa mais por isso.
Porque acima de tudo eu decido se isso vai de encontro aquilo em que acredito.
Parabéns pelo excelente trabalho
Olá Eufrásia, obrigado pelo comentário
Fico muito agradecido com o seu depoimento e a sua partilha. Sem dúvida que concordo consigo que nós somos os agentes da nossa transformação e superação do sofrimento e dificuldades.
Tudo de bom para você
Abraço
Ler o seu artigo é reconfortante, sobretudo quando estamos mais debilitados emocionalmente. Não há dúvida que encontrando um ponto de equilibrio temos de voltar a ser. Por muito dura que seja a realidade do momento, consola-nos saber que brevemente teremos a força e vontade para superar os acontecimentos.
Olá Teresa, obrigado pelo comentário
É isso mesmo, saber que existe em nós a força para continuar depois do abalo ou perda é o que nos mantém firmes no caminho da recuperação.
Agradeço imenso a sua participação. Tudo de bom para você.
Abraço
O que eu não sei identificar , é em que fase de reestruturação dessa perda eu estou, ora bem e seguindo em frente e recuperando , ora mal e relembrando e sofrendo. Tempo , quem sabe, mas que às vezes , mesmo sabendo tudo que deve ser feito, ou acompanhando "aqui " , o que poderia fazer , ou como agir , muitas vezes parece que nunca vai acabar totalmente o sofrimento. É como li em um artigo " Parece um resto de vinho no fundo da taça, que nem é bebido e nem jogado fora, fica ali não sei por quanto tempo.
E apesar de devorar e tentar digerir tudo que leio aqui, ainda é uma luta constante, que espero vencer um dia…Mas parece que para isso , agente tem que virar pedra. Assim que sinto.
Olá… resumindo minha história… tive um relacionamento de aproximadamente oito anos… e ao fim da relação me vi de frente com uma pessoa que eu não a reconhecia… fiquei profundamente decepcionado com a pessoa…. nunca tinha visto de perto tanta maldade, mentira, engodo, exploração de sentimentos…. após um ano do término procurei um psicólogo e ela tem me ajudado bastante… hoje estou um pouco melhor e acredito que minha ex seja uma "borderline"… ainda sim sofro muito devido a depressão…
Estou a beira de uma possível perda em minha vida, sei que coisa vem e vão, mas é tão triste, por que estou perdendo algo que demorei tanto pra conquistar ,eu estava com tanta fé que isso fosse dar certo…enfim… é esperar pra ver … 🙁
Miguel, parabéns!
Obrigado por todo seu empenho neste blog. Ler seus artigos ajuda, liberta muitas situações.
Sou leitora a um ano, tenho indicado muito o blog para diversas pessoas e a satisfação é geral.
Mais uma vez parabéns, você é um excelente profissional.
Um abraço
Estou passando por um processo mt dificil no momento, acabei de perder gemeos de uma gestacao de cinco meses, de um relacionamento de oito anos, na qual meu companheiro nao queria, quando ele comecou a aceitar a ideia eu os perdi. Nos primeiros dias ele foi um super homem, esteve ao meu lado de uma forma que eu nao esperava, mais com menos de uma semana, ele ja era a mesma pessoa, e o pior no momento em que eu me sentia fragio, triste, so me deixou pior. Nesse momento estou avaliando minha vida, nao era o momento, pra avaliar nada, era um momento em que eu so queria me sentir acolhida… Mais enfim agente nao esta no coracao de ninguem. Sei que Deus esta comigo e que vou dar a volta por cima.
Olá amigo Miguel :
Muito obrigado pelos textos, e pela ajuda, com certeza você tem ajudado muita gente, assim como eu, te agradeço de coração, e te peço que nunca para de nos ajudar com seus concelhos ! tudo de bom para você e sua família, sempre saúde e paz em seu coração !
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