Quando abordamos a questão relacionada com problemas na nossa vida, a abrangência é enorme, e as especificidades podem ser tantas quantas pessoas existem no planeta. No entanto, ainda que cada problema seja um “problema” individual, subjetivo e intransmissível, existem pontos comuns na sua abordagem, recuperação e formas de lidar. Os Problemas manifestam-se de muitas maneiras diferentes, e ainda que inevitavelmente o impacto seja pessoal, quer seja problema físico (por exemplo: doença, ou acidente), ou problema psicológico (por exemplo: depressão ou um transtorno de ansiedade), estendem-se sempre aos relacionamentos com a família, parceiros e amigos, ou em problemas no trabalho (absentismo, desempenho no trabalho, etc).
O problema original, seja de que natureza for, estabelece na grande maioria da vezes uma forte relação com vários aspetos da nossa vida e com os diferente papéis que representamos no nosso dia a dia.
Numa primeira fase após o surgimento agudo do problema, importa que a pessoa se focalize em larga escala na resolução, recuperação ou eliminação do respetivo problema. Mais tarde, a pessoa pode ter circunscrito o seu problema, e conseguir adequadamente voltar a ter a sua vida de volta. Ou, o problema ter alastrada a outra áreas de vida, minando de forma depreciativa a forma de olhar o mundo, e consequentemente a pessoa ver-se emaranhada num ciclo vicioso de problemas pessoais e incapacitando-a para lidar de forma efetiva com as situações.
A pessoa pode ainda conjeturar que o problema em questão (o seu específico) possa ter conduzido a uma nova forma de vida. Por força das circunstâncias o abalo pode ter provocado mudanças drástica na vida, mas ainda assim a pessoa pode estar disposta a adaptar-se. Cada caso, é um caso.
Irei abordar alguns aspetos que talvez possa aplicar de alguma maneira à realidade que está neste momento a viver. Fico esperançado que o ponto de vista apresentado neste artigo, possa fazer chegar alguma luz e entendimento que de certa forma consiga contribuir para recuperar do seu problema.
A resiliência é um tema quente na atualidade, e por um bom motivo. Não só temos os contratempos habituais nas nossas vidas diárias, como pontualmente enfrentamos desafios que numa primeira fase nos exigem um esforço descomunal de adaptação e nova adequação à vida. Então, como pode você recuperar de tudo isso, desde a birra mais desenfreada de uma criança à perda de emprego, ou pior, uma doença que lhe retira capacidade? Embora existam certamente muitos aspectos a levar em consideração e muito mais profundos, a resiliência é um fator decisivo para a recuperação de problemas de elevado impacto.
Apresento três habilidades principais que você pode usar:
1. Pratique a aceitação
Este é um tema amplo, mas abordo o fundamental:
Reconheça as suas emoções sobre a situação. Às vezes as pessoas que sofrem com algo como perda financeira, realmente não percebem que estão experimentando o sofrimento de perda. Os pais de crianças com necessidades especiais, por vezes, têm dificuldade em reconhecer como eles se sentem ressentidos. Por exemplo, perder o emprego pode resultar em sentimentos de vergonha.
As emoções e sentimentos negativos resultantes das distintas situações descritas são todas difíceis de aceitar, mas perante determinado problema que você possa estar a enfrentar, só pode avançar de forma mais preparada e capacitada quando sabe exatamente com o que está a lidar. Quando percebe não apenas o impacto que a situação específica está a ter na sua vida em termos funcionais, mas também o impacto que as suas emoções estão a gerar. Aprofundei o assunto no artigo: Aumente o seu sucesso entendendo as suas emoções.
Importa que você perceba: Qual o impacto emocional que o problema está a gerar em si?
Aceite a vida como ela é, e não como deveria ser. Podemos perder muito tempo pensando em como a vida “deve” ser em vez de aceitá-la tal como ela é. Sendo realista irá ajudá-lo a avançar mais depressa.
Ninguém disse que você tem que gostar, ou que o que lhe aconteceu ou está a acontecer é algo bom ou bem-vindo, não. A aceitação não significa que você tem que gostar do que está acontecendo. No entanto, é possível e igualmente benéfico não resistir (aceitar o problema como realidade que é), mas também e ao mesmo tempo não tem que gostar do abalo provocado pelo problema.
2. Construa uma perspectiva capacitadora
Lembre-se de experiências passadas. Esta é a chave para elevar a sua capacidade de recuperar das adversidades que enfrenta na sua vida. Lembre-se de outras dificuldades que você teve na sua vida e perceba que, de alguma forma, você foi o principal percursor e impulsionador para a resolução das situações desfavoráveis. É provável que você também consiga ser desta vez.
Como uma pessoa sábia uma vez disse: “Isto também passará”.
Pare de ruminar nos pensamentos negativos. A palavra “ruminar” vem do latim ruminare, que descreve uma vaca ruminando. Isto é o que você faz quando você reflete exageradamente, entrando num ciclo negativo de pensamentos negativos que influenciam de forma depreciativa a forma como pode lidar com o problema. Se pensar sobre o problema, mastigando um pouco, engoli-lo, trazê-lo de volta, a negatividade está sempre a vir à tona. A indignação e o ciclo fechado de raciocínio pode conduzir a um custo cognitivo elevado, ocupando a sua mente apenas na vitimização e não na sua recuperação saudável.
É fácil ficar preso no reviver do problema uma e outra vez, tentando “consertá-lo.” Mas, então, o foco fica muito diminuído e o problema torna-se a única coisa a ter relevância na sua vida. Deixe-o ir. Amplie o seu foco na possível solução e nas várias possibilidades existentes que ainda podem vir a acontecer na sua vida. Ou, porque não trabalhar na criação de alternativas?
Ligue-se ao momento presente. Ao invés de preocupar-se com algo que poderia acontecer no futuro ou preocupar-se com o passado, tente ficar no momento presente. Aqui e agora é onde a vida está realmente acontecendo. Expliquei este assunto de forma mais aprofundada no artigo: Viva no presente. Não se paralise pelo passado.
Use uma perspectiva de mudança. Relativizar os nossos problemas por certo não os resolve. Não resolve a natureza da eventual disfuncionalidade da situação nem tão pouco minimiza o que tem de ser feito na procura de soluções. Mas, como podemos verificar anteriormente, o problema também promove um impacto emocional na nossa vida. É exatamente na dor emocional que ter uma perspetiva de mudança pode ajudá-lo.
A perspectiva de mudança, tem a ver com a forma catastrófica como olhamos para os nossos acontecimentos. Nós podemos aumentá-los ou diminui-los. Se usarmos a estratégia de relativizar, olhando para outras historias que nos sejam familiares mas ainda mais devastadoras do que a que enfrentamos, aumentamos a possibilidade de ter uma visão menos drástica do problema. Ao fazer este exercício pode conseguir ganhar uma nova perspetiva e assim conseguir minimizar o impacto emocional e paralisante que pode estar a sentir. Expliquei este assunto de forma mais aprofundada no artigo: 4 Obstáculos à mudança de vida positiva.
3. Apoio Social
Este não é o momento para você passar por um momento agonizante sozinho. Uma das melhores maneiras para se recuperar de tempos difíceis é permitir que outras pessoas possam apoiá-lo emocionalmente.
Procure pessoas que você confia. É importante que você se sinta seguro o suficiente para falar com as pessoas sobre a sua situação, escolha os membros da família ou amigos em que realmente confia.
Verbalize a sua angústia. Você não tem que entrar em detalhes do que o incomoda, se não quiser, mas é importante que deixe as pessoas do seu círculo íntimo saibam que está passando por um momento difícil.
Recupere o seu poder de volta. Quanto mais permitir que o seu problema seja um segredo, mais poder ele tem sobre você. Ao falar sobre isso, você retira a âncora que o mantém preso ao seu “segredo profundo e escuro” promovendo e trazendo de volta a possibilidade de você perceber que tem em si recursos para seguir em frente na sua vida.
Para aprofundar o assunto, leia: 5 Dicas para superar as adversidades da vida
A vida tem altos e baixos, por vezes sentimos que nos esmagam, que nos assombram a vida e o sentimento de injustiça faz-se presente. A legitimidade para nos sentirmos dessa forma é total. Mas, é importante que possamos perceber que mesmo nos momentos mais desesperantes, somos sempre nós que escolhemos a atitude que queremos ter face à situação que enfrentamos.
Ao longo da história da humanidade muitas têm sido as pessoas que têm emergindo das cinzas tal Fénix renascida, construindo a vida uma e outra vez. Ser resiliente, dar a volta por cima, olhar a vida por novas perspectivas, aceitar os desaires, será sempre uma possibilidade que pode ser materializada ou não, pelo seu querer e vontade.
Se caíres sete vezes, levanta-te oito. – (Provérbio chinês)
Abraço,
Miguel Lucas
É incrível como 03 passos simples podem melhorar nossos estados emocionais. O que mais me chamou a atenção e qual eu devo mais praticar é a aceitação. Conheço esse principio já alguns anos porém tenho dificuldade de aceitar as coisas como elas são e fico e fico me indagendo o por que as coisas não são da forma que eu penso que deveriam ser.
Miguel, parabéns esse artigo ficou ótimo.
Olá Raphael, obrigado pelo comentário.
A aceitação é um passo importante para nos prepararmos para deixar os ressentimentos que possam estar a fazer autosabotagem aos nossos objetivos.
Agradeço as sua palavras. Tudo de bom para você
Abraço
Mas como esquecer/não dar atenção aos seus problemas e seus traumas? É possível vencer a depressão e parar de sofrer?
Ótimo texto!
Adoreei o artigo, Quero muito saber mais sobre o assunto, pois pretendo me torna uma psicologa. Gostaria muito se me mantem-se imformada sobre novas publicações. Obrigada. Abraços
Olá Jackelliny, obrigado pelo comentário.
Fico contente com a sua opção. Para receber os conteúdos postados, vá à lateral direita do blog, e onde está escrito dicas de psicologia coloque o seu email.
Abraço
Estou passando por um problema. preciso me orientar e encontrei um apoio aqui. Preceso ler muito sobre ( aceitação)Agradeço por estes (conselhos)
Olá Maria, obrigado pelo comentário.
Fico contente que tenha encontrado valor nos nossos artigos e que este sirvam para o seu desenvolvimento pessoal
Tudo de bom
Abraço