Muito do meu trabalho como psicólogo concentra-se no tratamento de pessoas com depressão, o que me permitiu ir adquirindo experiência das várias formas como se manifesta, mas também perceber o quanto as pessoas sofrem com este transtorno, muitas vezes sem perceberem que estão deprimidas. Por vezes, os sintomas vão aparecendo pouco a pouco enraizando-se numa forma negativa de olhar para si mesmo, como se fosse um perdedor. O pensamento é de uma pessoa deprimida, mas que julga apenas tratar-se de mau humor, ou ter baixa autoestima, ou ser demasiado crítico de si mesmo. Muitas pessoas que eu tenho tratado descreveram uma cegueira relativamente à sua própria depressão, até ao dia em que tudo desabou.
Mesmo as pessoas mais próximas podem não perceber que determinada pessoa está deprimida. Podem por vezes perceber que a pessoa não está no seu melhor, mas atribuem esse estado a outros fatores.
Dada a maior consciência pública da depressão, como é possível não saber quando ela está presente? Existem vários fatores que podem dificultar o reconhecimento da depressão:
A depressão pode parecer diferente de pessoa para pessoa
Duas pessoas que estão deprimidas podem ter apenas um ou dois sintomas em comum, ou mesmo até nenhum. Uma delas, por exemplo, pode sentir-se realmente abatida, ter insónia, ser incapaz de comer mais do que algumas pequenas porções de comida em cada refeição, ter problemas de concentração, e sentir-se tão miserável que já teve pensamentos de terminar a sua própria vida. A outra, não se sente visivelmente em baixo, mas não tem interesse em nada, mesmo atividades que anteriormente desfrutava. Está dormindo doze horas por dia, mas ainda assim sente-se terrivelmente cansada, sentido-se também completamente inútil.
Apesar destes dois exemplos serem muito diferentes, ambos são consistentes com transtorno depressivo maior. A gravidade da depressão pode variar muito, desde ser completamente incapaz de funcionar a ainda ser capaz de cuidar das suas responsabilidades e até mesmo encontrar prazer ocasional.
A depressão tende a desenvolver-se gradualmente
O desenvolvimento de cada sintoma de depressão pode ser como o crescimento do cabelo, sem mudanças perceptíveis no dia a dia, ou mesmo semana a semana. Uma vez que nos habituamos a ser nós mesmos, podemos não ter consciência das pequenas mudanças ao longo do tempo, como o nosso humor, energia e visão de nós mesmos. E então um dia podemos finalmente olhar para nós mesmos e mal reconhecer a pessoa que vemos, porque as mudanças cumulativas tornaram-se óbvias.
Os vários sintomas de depressão geralmente desenvolvem-se em momentos diferentes
A depressão muitas vezes tem um início insidioso, desenvolve-se um sintoma aqui, um sintoma acolá. Podemos não ter tanta energia como antes, e algumas semanas mais tarde percebemos que estamos muitas vezes mais debilitados do que o habitual. Podemos não suspeitar que ambas as experiências estão ligadas à mesma condição subjacente. Se os vários sintomas de depressão se fizessem sentir de uma só vez, seria muito mais óbvio que eles eram parte de um transtorno.
Pode haver uma razão óbvia para se sentir triste
Quando estamos enfrentando grandes desafios como problemas de saúde, um divórcio doloroso ou perda de emprego, é natural sentirmo-nos mal. Seria estranho, de fato, se o nosso humor não fosse afetado até certo ponto. Assim, talvez não chamemos a nossa reação de “depressão”, porque parece tão compreensível. No entanto, esses tipos de perdas são um dos preditores mais consistentes da depressão, pois perdemos fontes confiáveis de recompensa, engajamento e apoio. obviamente que tristeza não é depressão, mas se você fica triste por um período prolongado, até passar a ser o seu estado habitual, então sim, esse é um sintoma que faz parte do diagnóstico para a depressão.
Pode não haver uma “razão” óbvia para estar deprimido
O nosso humor pode ficar afetado sem qualquer causa que possamos facilmente identificar. Poderia ser devido a uma predisposição genética para a depressão, ou por uma maior sensibilidade a mudanças sazonais. Poderia também ser devido a mudanças identificáveis na vida que poderiam explicar o nosso humor diminuído, mas não fazemos a conexão. Sem um gatilho óbvio para a depressão, somos menos propensos a tomar consciência que estamos a ser afetados por esse transtorno.
Alguns sintomas podem não parecer depressão
Muitas vezes pensamos que uma pessoa que está deprimida é realmente triste, ainda que a depressão não tenha necessariamente que incluir tristeza. Muitos indivíduos com depressão sentem-se mais entorpecidos do que tristes, ou podem ter perdido o interesse em coisas que costumavam desfrutar sem ter uma mudança óbvia no seu estado emocional. Também pode ser fácil atribuir sintomas depressivos a outros fatores, já que a depressão é uma das várias explicações possíveis. Por exemplo, podemos culpar o estresse por nosso apetite aumentado e problemas de sono, julgando que o problema de concentração é impulsionado pelos problemas do sono.
Não nos queremos ver como deprimidos
Apesar do progresso nas últimas décadas, ainda há muito estigma contra a depressão. Podemos ter internalizado esse estigma, vendo a depressão como uma “fraqueza” ou um “fracasso pessoal”. Como resultado, talvez não queiramos reconhecer a nossa própria depressão. Talvez nos orgulhássemos da nossa força e resiliência, e a depressão simplesmente não condiz com a nossa identidade. Podemos, portanto, procurar qualquer explicação alternativa para a forma como nos estamos a sentir.
Como reconhecer a depressão pode ajudar?
Saber que pode estar a ser afetado pela depressão pode ser extremamente útil, e contribuir para mudar a sua vida para melhor, pelo menos de duas maneiras.
Primeiro, a depressão pode afetar todas as áreas da nossa vida, fazendo-nos sentir como se tudo estivesse caindo aos pedaços: não dormimos bem, ficamos mais irritados, a motivação diminuí, nada é mais divertido, e assim por diante. Ao percebermos que todos esses problemas estão relacionados, eles tornam-se mais fáceis de resolver. Em vez de ter dez problemas, temos um, e, obviamente, é mais fácil resolver um único problema do que dez.
Em segundo lugar, uma vez que conhecemos aquilo que nos afeta, o caminho para o tratamento fica mais esclarecido. Várias terapias apresentam na atualidade forte evidência para superar a depressão. Por exemplo, algumas semanas de terapia cognitivo-comportamental (TCC) tem um grande efeito positivo sobre os sintomas da depressão.
Para muitas pessoas, a depressão pode ser gerenciada sem assistência profissional, especialmente se a depressão for leve a moderada, e se houver um baixo risco de infligir danos a si mesmo. Muitas pessoas, aqui mesmo com a informação contida no meu Blog relatam sentir alívio e até mesmo superar os seus estados moderados de depressão.
Há também livros autodirigidos que podem ser muito úteis, como o meu livro: Diga não à depressão ou se você não gosta de ler, pode adquirir a minha palestra: Estratégias para superar a depressão
Se você ou um ente querido tem lutado ultimamente com alguns sintomas que podem apontar para a depressão, certamente será boa ideia agendar uma consulta com o seu médico de cuidados primários ou um profissional de saúde mental. A Psicologia oferece um conjunto de terapias e conhecimento que você pode usar para melhorar o estado em que se encontra. Não tem de sofrer desnecessariamente. E como qualquer outra coisa, saber com o que estamos lidando é metade da vitória.
Caso pretenda mais informação, registe-se gratuitamente no meu programa para superação da depressão =>> Quero participar do programa
Abraço,
Miguel Lucas