Gostaria que prestasse especial atenção à afirmação que coloco a seguir: O seu futuro não é determinado pela sua personalidade! De facto, a sua personalidade nem sequer é determinada pela noção que tem de si mesmo. Não existe nenhum código genético em si que determine aquilo que irá ser. Você é o “pensador” que determina aquilo que você irá ser. A forma como você age na sua vida, determina aquilo em que você se torna. Na verdade, nós estamos sempre a ser alguma coisa, dado que estamos sempre a expressar um determinado comportamento. O tempo/espaço que temos entre a leitura que fazemos de um estímulo e a resposta a esse mesmo estímulo, “vive” a possibilidade de expressão do nosso eu, é nesse tempo que expressamos aquilo que somos, é nesse intervalo de tempo que aquilo que somos e a forma como pensamos tem a oportunidade de expressar-se.
A reter: A expressão do nosso pensamento materializa-se nas nossas ações e as nossas ações descrevem a nossa personalidade.
Desta forma, nós vamos sendo um construto de nós mesmos, perante a maior ou menor capacidade que temos para gerir e criar intencionalmente os nossos pensamentos e consequentes ações. Como o pensamento é um “coisa” nossa, a qual podemos gerir e orientar (pelo menos temos essa possibilidade), quer dizer que podemos intencionalmente determinar aquilo que somos e/ou queremos vir a ser: a nossa personalidade. Não somos indivíduos estáticos, estamos constantemente a aprender (mesmo que tenhamos pouca consciência disso). Temos essa possibilidade devido à grande plasticidade cerebral, isto permite-nos, moldarmo-nos a nós mesmos, se tivermos essa consciência, quisermos e soubermos como o podemos fazer.
Existe uma frase de expressão Inglesa, mas lapidada pelo tão célebre Sonho Americano que transmite a noção do que descrevi anteriormente: Self Made Man
O LADO NEGATIVO DA PERSONALIDADE
A noção de personalidade pode promover más interpretações, pode promover categorizações não-adaptativas que nos podem prejudicar em alguns cenários, onde a nossa suposta personalidade não se encaixa ou estar totalmente inadequada à situação. Todos representamos imensos papéis na nossa vida: o de filho, pais, irmãos, companheiro, colega, amigo, vizinho, empregado, patrão, entre outros. Certamente, que a nossa atitude difere de papel para papel, ainda que o esqueleto da nossa identidade seja o suporte e o reservatório das nossas expressões, iremos expressar-nos de forma distinta quando representamos os distintos papéis. Uns mais que outros, todos temos um grau de flexibilidade nas nossas acões e formas de pensar, quando maior a flexibilidade de pensamento, maior será a capacidade de adaptação e adequação nas representações da nossa vida.
A rigidez da nossa personalidade, assim como a rigidez do nosso pensamento, pode provocar-nos a “ilusão” de uma personalidade muito vincada (o que na linguagem popular, dizemos de personalidade forte). Isto não é de todo uma vantagem, evoluímos, aprendemos e adaptámo-nos, essencialmente por termos conseguido desempenhar vários papéis, por conseguirmos mudar ao longo dos tempos. Por sabermos como ser e como agir num determinado cenário. Podemos expressar aquilo que somos de forma adequada e adaptativa a inúmeras situações, com diferentes soluções, sem necessariamente deixarmos de ser aquilo que queremos vincadamente (desadequadamente) ser. Nós não somos o nosso pensamento, nós somos aquele que pensa o pensamento. O nosso pensamento cristalizado funciona como uma âncora, não nos deixa sair do “pensamento” a que estamos agarrados. E isto pode ser uma desvantagem, é negativo na grande maioria da vezes.
DESENVOLVIMENTO PESSOAL
Talvez a realização mais importante que um indivíduo pode fazer na sua busca de crescimento pessoal é que não existe uma fórmula única que define o caminho para o sucesso. Todos nós temos metas e prioridades diferentes em diferentes alturas da nossa vida, o que significa que diferentes actividades e atitudes que vamos tendo na nossa vida, podem fazer-nos sentir igualmente bem acerca de nós mesmos quando representamos diferentes papéis. Nós também temos diferentes pontos fortes e fraquezas naturais que fazem parte da nossa forma de ser. Então, de que forma podemos nós sentirmo-nos bem sucedidos nas nossas vidas?
PERCEBA O QUE É IMPORTANTE PARA VOCÊ
Cada tipo de pessoa tem uma ideia diferente do que significa ser bem sucedido. O auto-conhecimento é um objetivo comum que nos ajuda a alcançar o sucesso pessoal. Assim, muitas pessoas estão aceitando para si a ideia de outros acerca do que significa ser ter sucesso, e isto acontece porque não têm conhecimento do que é verdadeiramente importante para elas. Isso é completamente normal, mas pode transforma-se em algo prejudicial se não tivermos os devidos cuidados. Todos nós, seguimos algumas pessoas que nos servem de modelos, influenciam as nossas opiniões, no entanto é importante percebermos que podem ter valores básicos que são bastante diferentes dos nossos. Se este for o caso, é importante reconhecer que a discrepância entre o que foi ensinado como sendo verdadeiramente importante e, aquilo que pessoalmente acreditamos que seja realmente importante é devido a uma diferença de perspectiva, entre nós e o modelo.
Se nós gastamos o nosso tempo e esforço tentando encontrar alguém que nos dê a sua ideia de sucesso, e ignorarmos ou menosprezarmos as mensagens conflituosas da nossa própria mente, então por certo estaremos a traçar um caminho para o esgotamento e infelicidade. Perceber o que é verdadeiramente importante para nós é um grande passo para alcançar o sucesso pessoal.
RECONHEÇA AS SUAS FRAQUEZAS SEM SE ESCONDER ATRÁS DELAS
À medida que vamos melhorando o nosso auto-conhecimento e percebermos que os nossos verdadeiros objetivos podem ser muito libertadores, não devemos descartar as regras da sociedade em que vivemos. Devemos reconhecer que os sistemas de valor, crenças e ideais das outras pessoas não são menos importantes que os nossos. E devemos reconhecer e aceitar que vivemos numa sociedade na qual certos tipos de personalidade e comportamentos são mais adequados para determinadas tarefas. Esta é uma chave que abrirá a porta para o desenvolvimento pessoal. Existem muitos obstáculos ao desenvolvimento pessoal, mas talvez o maior de todos seja cristalizarmos aquilo a que chamamos de personalidade.
Por exemplo, há situações em que é mais apropriado e eficaz mostrar compaixão e carinho (um sentimento), em vez de uma lógica impessoal (um pensamento). Da mesma forma, existem situações que exigem o uso da lógica impessoal para melhor tomar uma decisão, na qual o ponto de vista mais subjetivo da função sentimento é inadequado e ineficaz. Pessoas com uma preferência para orientarem os seus padrões mentais através dos sentimentos poderão ter uma vantagem natural sobre os que usam o pensamento lógico, em situações que exigem compaixão e consciência de outras emoções. Por outro lado, pessoas com uma preferência para orientarem os seus padrões mentais para o pensamento lógico terão uma vantagem natural sobre as pessoas que utilizam os padrões de pensamento sentimentais, em situações que requerem a capacidade de tomar uma decisão baseada em dados impessoais.
Dica: Arrisco a dizer que a pessoa que consegue articular-se entre os dois pólos, adequa-se melhor às circunstâncias de vida, sendo mais flexível, assertivo e consciente do seu papel a desempenhar.
À medida que aprendemos sobre o nosso tipo de personalidade e os tipos de personalidade dos outros, ficamos capacitados com uma compreensão acerca da razão porque algumas pessoas reagem de forma diferente em situações diferentes. Quando fazemos avaliações ou interpretações colocados no contexto dos Tipos Psicológicos, podemos aceitar e compreender melhor o comportamento das pessoas que são diferentes dos nossos. Estas percepções são extremamente úteis e poderosas para nós como indivíduos. No entanto, se estamos preocupados com o crescimento como indivíduos, devemos ter um cuidado acrescido para não usar o nosso tipo de personalidade como uma desculpa ou como um cliché para o nosso comportamento inadequado.
Ainda que seja útil e enriquecedor perceber que o comportamento inadequado de uma outra pessoa pode ser devido ao seu tipo de personalidade, não podemos usar o mesmo raciocínio em nós mesmos. Devemos reconhecer que o nosso tipo de personalidade tem pontos fracos, mas temos que usar esse conhecimento para melhorar esses mesmos pontos fracos ao invés de desculparmos as nossas fraquezas.
A reter: Nós não podemos ser responsáveis ??pelo comportamento das outras pessoas, mas podemos aprender a gerir e controlar o nosso próprio comportamento.
Assim, se percebemos que alguém parece ser incapaz de tomar uma decisão impessoal que tenha de ser olhada com desapego da perspectiva humana, devemos dizer a nós mesmos: “Ah ha, aqui está alguém que tem um padrão mental sentimental. Esta pessoa comete alguns erros de raciocínio, e é por isso que se comporta desta maneira”. No entanto, se nós mesmos tivermos um padrão mental sentimental, perante uma situação que requer uma abordagem impessoal, não devemos dizer a nós mesmos “Eu tenho um padrão mental sentimental, e não posso esperar conseguir tomar decisões baseadas em factos puramente impessoais e lógicos”. Esse tipo de racionalização para o comportamento é, certamente, uma maneira fácil de sair de uma situação, mas reforça a fraqueza, tornando-se cada vez mais fraca.
Para aprofundar este assunto, pondere ler os artigos:
PROCURAR O EQUILÍBRIO
A maioria das falhas associadas a qualquer tipo de personalidade são resultado da cristalização e uso excessivo do tipo de função dominante da personalidade, na medida em que as outras funções secundárias tornam-se escravas da função dominante. Embora seja natural para cada personalidade ser governada pela sua função dominante, torna-se um problema quando as funções de apoio não são levadas em consideração, ficando preteridas e impedidas de desenvolver-se plenamente por conta própria, porque estão muito ocupadas “servindo ao mestre”. Em tais casos, a nossa personalidade (nós mesmos) pode tornar-se bastante desequilibrada.
Da mesma forma, uma personalidade que se tem desenvolvido com o objetivo de servir a função dominante acima de todas as outras, muitas vezes resulta numa pessoa que está em desequilíbrio. Em casos severos, os pontos fracos são muitas vezes bastante evidentes para os outros. Um desequilíbrio tão drástico não é comum, e pode ser o resultado do elevado stress contínuo e extremo. Muitos de nós temos momentos nas nossas vidas durante os quais somos forçados ao ponto de chegarmos a um estado de desequilibro considerado grave. As pessoas que permanecem nesse estado de desequilibro por períodos alargados, podem estar a enfrentar problemas psicológicos ou problemas pessoais que necessitam de ser melhorados, e deve procurar ajuda profissional.
A saber: O mais comum é que as pessoas exibam os pontos fortes e fracos do seu tipo de personalidade. É natural e saudável que cada tipo de personalidade seja governado por uma função dominante, e que as outras funções suportem a dominante.
Não pretendo passar a ideia que as pessoas devem passar a ter outro tipo de personalidade, ou que devem alcançar um perfeito equilíbrio entre as várias funções da sua personalidade. Longe disso. Por definição, um reino precisa de um rei, e uma personalidade necessita de uma função dominante. No entanto, um reino com um rei bem desenvolvido e eficaz (a função dominante), que tem conselheiros bem treinados e educados (as funções de apoio), vai prosperar mais do que o reino governado por um rei negligente que é apoiado por assessores inexperientes.
Como podemos constatar, o equilíbrio e o sucesso são termos relativos. Eles tem um significado diferente para cada um dos tipos de personalidade (existem 16 tipos de personalidade de acordo com o teste de personalidade 16PF elaborado pelo psicólogo Raymond B. Cattell que definiu a personalidade como: “é o que permite uma previsão do que uma pessoa vai fazer numa determinada situação”.
Uma declaração usando ambos os termos é verdadeira para todos os tipos de personalidade: Equilíbrio é a chave para o sucesso.
AMPLIANDO A VISÃO E O DESENVOLVIMENTO PESSOAL
Então, como é que vamos perceber o que é verdadeiramente importante para nós? Como reconhecemos as nossas fraquezas, e aprendemos a não nos escondermos por trás delas? Como nos tornamos equilibrados? Como é que vamos ampliar a nossa visão que nos indique o caminho para o desenvolvimento pessoal e sucesso?
Não existe um guia ou um livro de instruções que nos faça ser bem sucedidos. Os tipos psicológico são uma poderosa ajuda na nossa busca pela excelência, mas não é a solução. É um modelo que irá ajudá-lo a expandir a sua compreensão da natureza humana. Uma melhor compreensão de si mesmo e dos outros vão ajudá-lo a encontrar, seguir ou expandir o seu caminho. Uma consciência e aceitação do facto de que uma função da personalidade pode ser mais eficaz do que outra função numa determinada situação, irá ajudá-lo a compreender a relevância do crescimento pessoal para a sua vida. E isto é engrandecedor, é um oásis perante a cristalização dos nossos hábitos e formas de ser.
Carl Jung identificou um processo de crescimento pessoal que ele chamou de individuação, que é essencialmente a realização consciente do seu verdadeiro eu, para além do Ego que é apresentado pela sua consciência.
Na minha atividade profissional enquanto psicólogo e na intervenção com as pessoas que me procuram e necessitam de ajuda, implicitamente trabalho no desenvolvimento pessoal dessa pessoa. Os esforços que faço na tentativa para ajudar as pessoas a desenvolver-se, materializa-se na tentativa de fazer perceber que as suas perspectivas pessoais e ideias conscientes são apenas uma pequena parte de quem elas são, e que quanto mais elas tentam desenvolver e defender esse “eu” superficial, ainda ficam longe do seu verdadeiro eu.
Esta percepção ajuda a pessoa a tomar consciência que apesar de na vida termos determinados traços mais vincados da nossa personalidade, estes nem sempre são adequados a algumas situações e deveremos ser flexíveis o suficiente para conseguir manifestar alguns traços secundários que se adaptam melhor à situação ou ao papel que estamos na altura a desempenhar.
É imperativo, que levemos em consideração que por vezes um distanciamento de determinados traços dominantes permite-nos perspetivar alternativas aos comportamentos vincados, e ao velhos processos de racíocínio que nos inibem o crescimento e a adequação às constantes mudanças nos diferentes papéis que desempenhamos ao longo da vida.
Abraço
Um excelente artigo, Miguel.
Acho que esta frase é matéria para muita reflexão:
…”Uma consciência e aceitação do facto de que uma função da personalidade pode ser mais eficaz do que outra função numa determinada situação, irá ajudá-lo a compreender a relevância do crescimento pessoal para a sua vida….”
Parabéns
Concordo com esta frase.
Em relação a esta “Por definição, um reino precisa de um rei, e uma personalidade necessita de uma função dominante. No entanto, um reino com um rei bem desenvolvido e eficaz (a função dominante), que tem conselheiros bem treinados e educados (as funções de apoio), vai prosperar mais do que o reino governado por um rei negligente que é apoiado por assessores inexperientes.”
Qual deveria ser a dominante? a lógica, uma vez que possibilita o controlo da emocional?
Olá Márcio, obrigado pelo comentário.
Quando se fala de uma característica dominante, tem a ver com o esqueleto que constitui a personalidade. Mas tal como no corpo humano, se não tivéssemos músculos e tendões o esqueleto não funcionaria. E na parte muscular se utilizássemos a maior parte do tempo um grupo muscular, esse iria ficar tremendamente forte, mas ao mesmo tempo criaria desiquilibrios. Desta forma devemos ter em mente aquilo que nos define, que numa primeira impressão salta mais à vista, mas deveremos igualmente investir noutras áreas do nosso desenvolvimento para que possamos poder utilizar. É aqui que nos tornamos flexíveis, quando deliberadamente podemos ativar alguns traços da nossa personalidade que julgamos encaixarem-se melhor perante determinada situação.
Desta forma não existe uma melhor nem pior, temos de possuir os dois estilos e saberem utilizá-los sempre que necessário, ainda que naturalmente possamos ter tendência para agir mais de um dos lados
Abraço
Reconheço que tenho os quês de perssonalidade que vêm ao de cima com muita facilidade. Mas também sei que identificando exactamente quais são, tenho a possibilidade de os apagar. Tudo requer um esforço, e “a prática faz o monge”.
Olá Teresa Coutinho, obrigado pelo comentário.
Sem dúvida, se praticarmos a capacidade de ativar determinados traços que na grande maioria da vezes ficam à mercê dos nossos impulsos vincados da personalidade, seremos indivíduos mais capazes de nos adequarmos às circunstâncias de uma forma mais equilibrada.
Abraço
Mais um excelente artigo!
Eu sempre achei que essa adaptação ao meio, fosse vista como uma coisa ruim, que eu pudesse acabar sendo visto como uma pessoa manipuladora, quando tento ser apenas o mais flexível possível, mantendo apenas meus valores básicos, os quais considero imutáveis.
Gostaria de ver, se possível, um artigo sobre as características das personalidades e os pontos que são considerados, de forma geral, como positivos e negativos. Acho que seria um artigo muito interessante!
Abraço!
Olá Leo, obrigado pelo comentário.
A adaptação fez chegar a humanidade até aos dia de hoje praticamente sempre a melhorar a condição de vida. Ser-se flexível no pensamento não é equivalente a não ter carácter ou ser-se coerente, tem mais a ver com a capacidade de ler as situações e adequar uma resposta que melhor sirva para todos.
Abraço
APRENDA A DESEMPENHAR UM PAPEL
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