Smiles, selfies, textos incessantes, auriculares nas orelhas como apêndices secundários, tudo isso dá a ilusão de que estamos bem conectados. Estamos tagarelando e mostrando-nos ao mundo durante todo o dia ao longo da vida. Enquanto isso, os estudos sociais e comportamentais revelam-nos uma realidade incrível: mais de 20% da população mundial sofre de algum transtorno de ansiedade.
Estamos tornando-nos pessoas socialmente ansiosas. Isto é paradoxal, sobretudo quando as redes sociais fazem parte do nosso dia a dia. O que se passa? O que a pessoa com ansiedade social poderá fazer neste novo mundo que se move nas redes sociais?
Nós não podemos suprimir as emoções humanas. Elas sempre encontram uma maneira de se manifestar em nós. O comportamento humano está enraizado em pensamentos e sentimentos. Nunca nos moveremos para lá disso, a menos que nos tornemos robôs. Não podemos evoluir deixando a nossa maneira de sermos humanos.
Não se refugie nas redes sociais para evitar a ansiedade social
O transtorno de ansiedade social, também conhecido como fobia social, é um medo intenso de poder vir a sentir-se humilhado ou embaraçado em situações sociais. O transtorno de ansiedade social não é timidez. A ansiedade social causa medo intenso, o que deixa a pessoa propensa a evitar situações sociais por medo de dizer ou fazer algo que considera “errado”.
As pessoas com transtorno de ansiedade social tendem a isolar-se na tentativa de evitar os sentimentos ansiosos. Por exemplo, receiam ter de falar em sala de aula, expor as suas ideias ou falar sobre si mesmo para os outros.
Para quem se sente intensamente ansioso na relação com outras pessoas ou em interações de vida cotidiana, as mídias sociais são o local certo para que possa “esconder-se”. E enquanto a pessoa com ansiedade social se esconde por detrás de uma tela de computador ou smartphone, consegue escapar dos seus sentimentos de ansiedade. Mas o que está acontecendo na realidade é o seguinte: está promovendo o evitamento e a fuga.
Telefones, tablets, computadores estão dando uma excelente oportunidade de fuga dos incómodos sociais. A pessoa fica socialmente confortável, quando na realidade, não está. As mídias sociais funcionam como um bilhete tecnológico para utilizar a fuga e o evitamento como um mecanismo de enfrentamento da ansiedade social (um enfrentamento prejudicial).
Se você sofre de ansiedade social e é utilizador frequente das redes sociais em substituição das interações sociais presenciais, tem mesmo de ficar ciente do seguinte:
Quanto menos você praticar as suas habilidades sociais presenciais, mais difícil se torna a interação social.
E, em breve, você vai restringindo as interações sociais até ao ponto de se resumirem a um dispositivo digital. Não é bom para você. Não é bom para nenhum de nós. Porque o que acaba ocorrendo é o isolamento social, que reforça a ansiedade social e promove sentimentos de depressão e de baixa autoestima.
Não sou contra as mídias sociais, pois também as utilizo pessoalmente e profissionalmente. Temos de perceber como as podemos utilizar de forma equilibrada e sem prejuízos para a nossa saúde psicológica.
Mais em baixo apresento algumas formas de minimizar os danos das redes sociais se você sofre de transtorno de ansiedade social:
- Comece a reverter o uso do telefone como ferramenta de sentir-se seguramente conectado.
- Quando você se sentir ansioso, coloque o seu telefone de lado e inicie alguma atividade que necessite do seu foco. Outro tipo de comportamento irá ajudá-lo a instituir outros hábitos de substituição de redução da ansiedade.
- Faça um esforço para se conectar socialmente, mas de forma presencial, em pequenos grupos. Trabalhe no seu contato visual e inicie algum tipo de conversa sem usar um telefone como rede de segurança.
- Compreenda que a maioria das pessoas sente-se nervosa ou ansiosa em situações sociais de tempos em tempos. Você não é o único. Se você está se sentindo assim, as chances são de que alguns dos outros no seu grupo estão sentindo o mesmo.
- Se sentir ansiedade extrema, procure ajuda. A Terapia cognitivo-comportamental é um excelente tratamento para superar a ansiedade social.
Lembre-se: A sua vida não é a soma equivalente ao número de Likes (gostos ou curtidas) que você recebe online. A mídia social não é a vida real (faz parte dela, mas não é a realidade total). Mídia (Facebook, Instagram, Twitter) é arte moderna onde as pessoas podem pintar qualquer imagem que desejam das suas vidas. E a mídia só é social no sentido tecnológico, como uma extensão das conexões sociais presenciais.
Abraço,
Miguel Lucas