Ataques de pânico? Pare de lutar com as emoções e sensações incómodas - Miguel Lucas
Psicologia Comportamental 22/09/2016

Ataques de pânico? Pare de lutar com as emoções e sensações incómodas

Miguel Lucas Publicado por Miguel Lucas

Lembro-me muito bem do meu primeiro ataque de pânico. Eu estava passando por um término de relacionamento e enquanto caminhava pelo shopping, de repente as luzes ficaram muito brilhantes e parecia que havia uma enorme quantidade de pessoas. Eu senti-me pequeno e vulnerável, como se qualquer uma daquelas pessoas me pudesse fazer mal. Os meus joelhos ficaram trémulos tive a sensação que a qualquer momento iria desmaiar. Eu estava hiperventilando e achei que estava morrendo.

O ataque de pânico veio do nada e eu nunca tinha experimentado algo parecido antes. Daquele momento em diante, comecei a preocupar-me constantemente com todos os pequenos detalhes da vida, desde o momento em que saía de casa. Enquanto esperava no ponto de ônibus, tinha conversas internas comigo sobre o que aconteceria se eu não pudesse entrar no ônibus, eu iria chegar atrasado e perderia o meu emprego e estaria totalmente ferrado. Todas essas coisas aconteciam no início da manhã, todas as manhãs, e continuavam para cada pequeno detalhe que você pode imaginar durante o dia, então parei de sair, exceto para o trabalho.

Cheguei ao ponto de abominar os meus próprios pensamentos e sentimentos. Imaginei-me a colocá-los dentro de um garrafa e fechá-los com uma tampa. Passei a evitar tudo o que me fizesse sentir mal, fugia das minhas próprias emoções para que sentisse algum controle. É doloroso demais, pois do nada, lá vinha uma emoção e sensação temerosa. Mais um ciclo de ataque de pânico: estresse, ansiedade, tensão, medo. 

– Testemunho de um paciente

  • Estes episódios soam familiares?
  • Você gostaria de poder extinguir a ansiedade da sua vida?
  • Você acredita que pode “controlar” o que acontece no seu corpo?
  • Está suprimindo, parando, ignorando ou combatendo as suas emoções e sensações, dando-lhe um alívio temporário, mas não os resultados duradouros que deseja?

Luta inglória

Como o meu paciente, você pode acreditar que consegue controlar aqueles sentimentos e sensações internas angustiantes. A maioria das pessoas que não não procurou tratamento acredita que pode. O evitamento pode ser a sua forma de lidar com o incómodo e resistir aos sentimentos e sensações quando eles aparecem.

  • Durante um ataque de pânico, você consegue nesse momento parar o fluxo de sangue que está indo para o seu estômago, o qual está causando o seu desconforto abdominal?
  • Você consegue diminuir imediatamente os batimentos cardíacos acelerados?
  • Quando você está suando muito, consegue dizer às suas glândulas que parem?

Acredito que a resposta às questões anteriores seja, não!

Nós seres humanos, não podemos não sentir ansiedade. Não podemos não sentir sentimentos e sensações incómodas. Somos seres sensíveis e como tal, sentir é algo normal e natural.

No entanto, provavelmente quanto mais você sentir o tremor no seu corpo, mais tendência terá para resistir. A falta de ar, a dor no peito e a sensação de asfixia fazem com que você se sinta preso. Quando a sensação de desmaio e dormência ocorrem, o desejo de escapar dessas sensações é irresistível. Quando você se sente desapegado do momento presente e teme perder o controle, a sua única opção parece ser ouvir a sua mente dizer: “Lute! “Controle!” “Você pode evitar sentir isso!”

A sua angústia leva a que se esforce mais. E por que não? Faz lógica, mas como você já deve ter percebido (caso tenha ataques de pânico), isso não funciona de forma eficaz.

Você precisa saber que Dor + Resistência = Sofrimento. A dor é universal e todos nós a experimentamos de várias formas. Mas quando resistimos, arrastamos isso pela vida e a dor torna-se em sofrimento. Quando se trata de ansiedade, é a resistência a ela e o desejo de substituí-la que torna a dor mais duradoura.

“O que você resiste, persiste.” – Carl Jung

Quando a ansiedade está presente, a sua mente pode dizer: “Este é um mau momento“.  A sua mente estabeleceu regras e expectativas. No momento em que você deseja algo diferente do que está acontecendo, esse é o momento em que o seu sofrimento dispara. A boa notícia é que existem alternativas melhores do que combater as suas emoções e sensações dolorosas. Assim como os surfistas surfam as ondas grandes, você pode aprender a surfar as ondas naturais do seu corpo em vez de combatê-las.

Mas para você conseguir fazer isso tem de aceitar sentir o que o incomoda. E se tem vindo a ser atormentado pelos seus ataques de pânico, tem de ficar a saber que os sintomas que sente não lhe podem provocar dano físico. Aprofundei este tema no artigo: O que são ataques de pânico

Aprenda a surfar as ondas emocionais

Imagine ver uma onda gigante a formar-se no oceano. A resistência entre o vento e a superfície da água criou essa onda. Enquanto a fricção continua, a onda começa a aumentar. A energia é intensa e está tornando a onda mais alta que o normal.  Observe a sua força e observe que, como qualquer onda, ela começa a quebrar. A onda colidirá na costa como todas as ondas. Essa é a natureza delas e você não pode detê-las.

Como você se sente quando resiste às ondas (sensações incómodas) dentro de você?

Os elementos que formam a onda de pânico podem ser substâncias químicas no seu cérebro, pensamentos, sensações, emoções e impulsos. Estas são ocorrências naturais do corpo humano.

O que pode fazer? Ao tomar conhecimento da acumulação de tensão, inspire profundamente. Durante a expiração, imagine soprar o ar para a área do corpo onde você sente essa pressão. Importa que faça isso para dar espaço a que as sensações se manifestem, e não para evitar que elas ocorram.

Continue a inspirar e expirar no aperto emocional que você sente para permitir que pouco a pouco a intensidade das sensações enfraqueça.

Tente não evitar sentir. Inspire e, enquanto expira, imagine a intensidade emocional a diminuir. Deixe acontecer. Lembre-se, você pode escolher permitir sentir o disparo das sensações incómodas ou lutar contra elas, sendo que a última opção irá deixá-lo exausto.

Se você não se sentir ameaçado pelo seu pico emocional e respetivas ondas de sensações desagradáveis, você irá conseguir manter-se firme, até que tudo diminua e acalme.

“Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfá-las.” – Jon Kabat-Zinn

Se você gostaria de ficar mais esclarecido e compreender melhor os seus ataques de pânico e como lidar com a ansiedade, leia o meu artigo =>> Compreenda os ataques de pânico e aprenda a libertar-se da ansiedade

Abraço,

Miguel Lucas

 

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Comentários
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Carlos Pereira

Bom dia. O sindroma de ansiedade generalizada. Cada vez mais seres humanos vivem com este tormento, e a sensação que mais me (nos) angustia é ter consciência que a nossa mente se torna mais limitada, e com isso, a nossa própria vida. Convivo hoje melhor com este problema, mas gostaria de poder falar com o professor Lucas.
Um abraço

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Monique Leal

Nossa o conteúdo expandiu meus horizontes, estava com algumas duvidas na qual foram tiradas!

Espero boa sorte com seus trabalhos!

Abraço!

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Miguel Lucas

Olá Monique,

Obrigado pelas suas palavras de gratidão.
Fico contente por poder ajudar com os meus ensinamentos.
Tudo de bom para você.
Abraço,

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