Lembro-me muito bem do meu primeiro ataque de pânico. Eu estava passando por um término de relacionamento e enquanto caminhava pelo shopping, de repente as luzes ficaram muito brilhantes e parecia que havia uma enorme quantidade de pessoas. Eu senti-me pequeno e vulnerável, como se qualquer uma daquelas pessoas me pudesse fazer mal. Os meus joelhos ficaram trémulos tive a sensação que a qualquer momento iria desmaiar. Eu estava hiperventilando e achei que estava morrendo.
O ataque de pânico veio do nada e eu nunca tinha experimentado algo parecido antes. Daquele momento em diante, comecei a preocupar-me constantemente com todos os pequenos detalhes da vida, desde o momento em que saía de casa. Enquanto esperava no ponto de ônibus, tinha conversas internas comigo sobre o que aconteceria se eu não pudesse entrar no ônibus, eu iria chegar atrasado e perderia o meu emprego e estaria totalmente ferrado. Todas essas coisas aconteciam no início da manhã, todas as manhãs, e continuavam para cada pequeno detalhe que você pode imaginar durante o dia, então parei de sair, exceto para o trabalho.
Cheguei ao ponto de abominar os meus próprios pensamentos e sentimentos. Imaginei-me a colocá-los dentro de um garrafa e fechá-los com uma tampa. Passei a evitar tudo o que me fizesse sentir mal, fugia das minhas próprias emoções para que sentisse algum controle. É doloroso demais, pois do nada, lá vinha uma emoção e sensação temerosa. Mais um ciclo de ataque de pânico: estresse, ansiedade, tensão, medo.
– Testemunho de um paciente
- Estes episódios soam familiares?
- Você gostaria de poder extinguir a ansiedade da sua vida?
- Você acredita que pode “controlar” o que acontece no seu corpo?
- Está suprimindo, parando, ignorando ou combatendo as suas emoções e sensações, dando-lhe um alívio temporário, mas não os resultados duradouros que deseja?
Luta inglória
Como o meu paciente, você pode acreditar que consegue controlar aqueles sentimentos e sensações internas angustiantes. A maioria das pessoas que não não procurou tratamento acredita que pode. O evitamento pode ser a sua forma de lidar com o incómodo e resistir aos sentimentos e sensações quando eles aparecem.
- Durante um ataque de pânico, você consegue nesse momento parar o fluxo de sangue que está indo para o seu estômago, o qual está causando o seu desconforto abdominal?
- Você consegue diminuir imediatamente os batimentos cardíacos acelerados?
- Quando você está suando muito, consegue dizer às suas glândulas que parem?
Acredito que a resposta às questões anteriores seja, não!
Nós seres humanos, não podemos não sentir ansiedade. Não podemos não sentir sentimentos e sensações incómodas. Somos seres sensíveis e como tal, sentir é algo normal e natural.
No entanto, provavelmente quanto mais você sentir o tremor no seu corpo, mais tendência terá para resistir. A falta de ar, a dor no peito e a sensação de asfixia fazem com que você se sinta preso. Quando a sensação de desmaio e dormência ocorrem, o desejo de escapar dessas sensações é irresistível. Quando você se sente desapegado do momento presente e teme perder o controle, a sua única opção parece ser ouvir a sua mente dizer: “Lute! “Controle!” “Você pode evitar sentir isso!”
A sua angústia leva a que se esforce mais. E por que não? Faz lógica, mas como você já deve ter percebido (caso tenha ataques de pânico), isso não funciona de forma eficaz.
Você precisa saber que Dor + Resistência = Sofrimento. A dor é universal e todos nós a experimentamos de várias formas. Mas quando resistimos, arrastamos isso pela vida e a dor torna-se em sofrimento. Quando se trata de ansiedade, é a resistência a ela e o desejo de substituí-la que torna a dor mais duradoura.
“O que você resiste, persiste.” – Carl Jung
Quando a ansiedade está presente, a sua mente pode dizer: “Este é um mau momento“. A sua mente estabeleceu regras e expectativas. No momento em que você deseja algo diferente do que está acontecendo, esse é o momento em que o seu sofrimento dispara. A boa notícia é que existem alternativas melhores do que combater as suas emoções e sensações dolorosas. Assim como os surfistas surfam as ondas grandes, você pode aprender a surfar as ondas naturais do seu corpo em vez de combatê-las.
Mas para você conseguir fazer isso tem de aceitar sentir o que o incomoda. E se tem vindo a ser atormentado pelos seus ataques de pânico, tem de ficar a saber que os sintomas que sente não lhe podem provocar dano físico. Aprofundei este tema no artigo: O que são ataques de pânico
Aprenda a surfar as ondas emocionais
Imagine ver uma onda gigante a formar-se no oceano. A resistência entre o vento e a superfície da água criou essa onda. Enquanto a fricção continua, a onda começa a aumentar. A energia é intensa e está tornando a onda mais alta que o normal. Observe a sua força e observe que, como qualquer onda, ela começa a quebrar. A onda colidirá na costa como todas as ondas. Essa é a natureza delas e você não pode detê-las.
Como você se sente quando resiste às ondas (sensações incómodas) dentro de você?
Os elementos que formam a onda de pânico podem ser substâncias químicas no seu cérebro, pensamentos, sensações, emoções e impulsos. Estas são ocorrências naturais do corpo humano.
O que pode fazer? Ao tomar conhecimento da acumulação de tensão, inspire profundamente. Durante a expiração, imagine soprar o ar para a área do corpo onde você sente essa pressão. Importa que faça isso para dar espaço a que as sensações se manifestem, e não para evitar que elas ocorram.
Continue a inspirar e expirar no aperto emocional que você sente para permitir que pouco a pouco a intensidade das sensações enfraqueça.
Tente não evitar sentir. Inspire e, enquanto expira, imagine a intensidade emocional a diminuir. Deixe acontecer. Lembre-se, você pode escolher permitir sentir o disparo das sensações incómodas ou lutar contra elas, sendo que a última opção irá deixá-lo exausto.
Se você não se sentir ameaçado pelo seu pico emocional e respetivas ondas de sensações desagradáveis, você irá conseguir manter-se firme, até que tudo diminua e acalme.
“Você não pode parar as ondas, mas pode aprender a surfá-las.” – Jon Kabat-Zinn
Se você gostaria de ficar mais esclarecido e compreender melhor os seus ataques de pânico e como lidar com a ansiedade, leia o meu artigo =>> Compreenda os ataques de pânico e aprenda a libertar-se da ansiedade
Abraço,
Miguel Lucas
Bom dia. O sindroma de ansiedade generalizada. Cada vez mais seres humanos vivem com este tormento, e a sensação que mais me (nos) angustia é ter consciência que a nossa mente se torna mais limitada, e com isso, a nossa própria vida. Convivo hoje melhor com este problema, mas gostaria de poder falar com o professor Lucas.
Um abraço
Nossa o conteúdo expandiu meus horizontes, estava com algumas duvidas na qual foram tiradas!
Espero boa sorte com seus trabalhos!
Abraço!
Olá Monique,
Obrigado pelas suas palavras de gratidão.
Fico contente por poder ajudar com os meus ensinamentos.
Tudo de bom para você.
Abraço,