Todos nós em algum momento das nossas vidas somos acometidos pelos sintomas da ansiedade. A ansiedade são apenas sintomas que experienciamos no nosso corpo, na grande maioria das vezes em forma de sensações desagradáveis ou em pensamentos recorrentes de medo e preocupação. Quando a preocupação se torna excessiva e toma conta da nossa mente, ficamos à mercê de um duplo ciclo negativo.
Experimentamos sensações desagradáveis no corpo, que fazem disparar ou são disparadas pelos pensamentos de medo irracional ou preocupações desmedidas. O pensamento mais comum é o pensamento “e se”.
Se você já experienciou algo do género, sabe que a sua mente começa a ruminar sobre pensamentos do tipo, “E se isto acontecer? E se eu não consigo fazer isso? E se não volto a ser feliz”? Os “e se” consomem a sua mente, atenção e foco.
Prever para me proteger
O pensamento “e se”, numa primeira análise pode parecer-nos bastante razoável. Vejamos o que isso significa. Tentar prever o que pode acontecer no futuro é um ato mental muito assertivo, e certamente já lhe foi útil, assim como tem vindo a ser útil a toda a humanidade.
Por este motivo, o medo é uma emoção básica muito poderosa que está contida no nosso código genético. O medo leva-nos a evitar problemas futuros idênticos aos que sofremos no passado. Até aqui, parece-me ser bastante produtivo prevermos cenários futuros e preparar-nos o melhor que pudermos para evitar algo que tememos ou para que aconteça algo que pretendemos.
Então, o que está acontecendo para que este mecanismo ancestral de proteção se volte contra nós, e tantos problemas nos cause?
Certamente, porque estamos utilizando erradamente o nosso forte impulso de proteção. Estamos a gastar energia e recursos mentais (imaginação, memórias, planejamento) na construção de cenários catastróficos que podem nunca vir a acontecer. Pior, estamos a projetar cenários baseados no nosso medo, em que apenas utilizamos a imaginação para projetar situações em que nos vimos a ser mal-sucedidos.
Esta é a principal razão para sofrermos com a ansiedade. Estamos a fazer projeções futuras improváveis de acontecer, e que no seu retorno nos retiram foco para a solução. Em resultado, o sofrimento emocional invade-nos, e a ansiedade toma contornos dolorosos, manifestando-se no nosso corpo na forma de sensações físicas incómodas, e na mente, na forma de ruminações e preocupações excessivas.
Dica: Foque a sua atenção no que pretende realizar e não naquilo que teme que venha a acontecer.
Aprender a recuperar o controle
Aprender a recuperar o controle da sua mente sobre os pensamentos “e se”, requer que você fique ciente que os sintomas da ansiedade não lhe podem causar dano físico, e que consegue dirigir a sua atenção para a construção de novos pensamentos.
Para que você possa ser bem-sucedido na recuperação do controle, importa tornar-se consciente da sua ansiedade (sensações incómodas sentidas no corpo, e pensamentos negativos, depreciativos ou de preocupação), enquanto você está experimentando.
Muitas vezes, podemos recordar alguns acontecimentos e compreender que as nossas ações foram impulsionadas pela ansiedade ou pensamentos ansiosos, mas enquanto estamos a viver o momento crítico raramente somos capazes de compreender até que ponto as nossas emoções nos estão afetando.
Uma vez que aprenda a detetar as manifestações de ansiedade que ocorrem em você, fica mais capacitado para não agir em reação aos sintomas da sua ansiedade, e assim conseguir desenvolver um plano de ação. Este plano de ação funciona melhor quando você o desenvolve antes do tempo.
Ocupe algum do seu tempo para planejar uma forma de agir eficazmente na presença dos seus receios, incapacidades e dificuldades. Quando você está se preocupando com algo, o que você pode fazer? Encontrar uma distração, como dar um passeio? Talvez escrever uma lista de prós e contras de resultados? Aplicar uma técnica de relaxamento?
Na construção do seu plano você pode colocar aquilo que sabe que funciona. Por exemplo, aquilo que você sabe que o acalma, ou aquilo que você sabe que faz focar-se no presente. Lembre-se que este pode ser um processo evolutivo.
A sua primeira tentativa pode não funcionar ou você pode levar algum tempo para desenvolver o hábito de identificar a sua ansiedade, ou para ser eficaz a conduzir os seus pensamentos.
Para aprofundar o assunto, leia: Quem está no comando da sua mente?
Cuidado com os comportamentos de segurança
Ainda que algumas estratégias de distração possam ser benéficas numa primeira fase, não resolvem o problema da ansiedade a médio e a longo prazo. É uma solução para o momento, mas não resolve o problema na raiz. A maioria das pessoas podem nem mesmo perceber que estão usando distrações para lidar com a ansiedade.
A grande maioria das estratégias de distração, em psicologia, são consideradas como comportamentos de segurança. Por exemplo, a pessoa pode sentir-se desconfortável sozinha, por isso sai à rua sempre acompanhada, tem sempre um companheiro de quarto (se a pessoa é jovem) ou membros da família em casa.
Quando a ansiedade atinge picos muitos elevados de incómodo a pessoa pode desenvolver alguns transtornos de ansiedade, como a fobia social, ataques de pânico, ansiedade generalizada, o que pode conduzir a que a pessoa apresente inúmeros comportamentos de segurança.
As distrações e comportamentos de segurança podem ser utilizados para que a pessoa consiga fazer algumas das suas tarefas diárias, no entanto, importa ficar ciente que este tipo de comportamentos de segurança vão alimentando o próprio problema de ansiedade, promovendo-o. Mas porquê?
Uma vez que a estratégia de distração termine ou o comportamento de segurança não seja possível de realizar a pessoa volta a sofrer com os problemas associados à ansiedade. Na verdade, a pessoa tem comportamentos de segurança porque teme as consequências da sua ansiedade.
Isto que dizer que a pessoa tem medo de vir a sentir os sintomas da ansiedade. Se tem medo e continua a preocupar-se, então o problema continua lá. E, os comportamentos de segurança, confirmam isso mesmo, a pessoa não sabe lidar com as consequências dos disparos ansiosos no seu corpo.
Os comportamentos de segurança relembram à pessoa que ela tem medo da sua ansiedade. Em consequência, os comportamentos de segurança reforçam o poder negativo que a ansiedade tem sobre a pessoa.
Para aprofundar o assunto, leia: Ansiedade, evitar lidar com os problemas pode ser prejudicial
Como lidar com a ansiedade e problemas associados
É melhor tratar diretamente o problema da ansiedade na sua raiz. Isso pode significar falar com um profissional ou procurar informação credível para entender melhor porque a sua vida está a ser consumida com preocupação sobre acontecimentos futuros, que provavelmente nunca acontecerão. Lembre-se, você não é psíquico e não pode controlar o futuro.
Você pode controlar o seu comportamento no momento presente, pode conseguir orientar os seus pensamentos e orientar a sua atenção para aquilo que é significativo para você. As suas ações podem influenciar os resultados futuros.
Aquilo que pode controlar é exatamente aquilo que faz no momento presente. Para não acontecer algo que teme vir a acontecer no futuro, a única forma de diminuir a probabilidade de acontecer o que teme, é fazendo coisas no presente que o preparem para lidar com os problemas que receia enfrentar no futuro.
Quando nos sentimos preparados para enfrentar as dificuldades percepcionadas, a confiança aumenta e a ansiedade tende a diminuir.
Há muitas maneiras de saber como lidar com a ansiedade, só precisa descobrir o que funciona melhor para você. Você pode ter um elevado controle sobre as suas ações, pensamentos e emoções, a menos que deixe os seus pensamentos de “e se” tomarem o controle.
Retome o controle da sua vida focando-se naquilo que pode fazer para regular as sensações incómodas do seu corpo e mude os seus pensamentos ansiosos para pensamentos capacitadores.
Para aprofundar o assunto, leia: Ansiedade, mude o que é possível, aceite o resto
ANSIEDADE PATOLÓGICA
Se a sua ansiedade foi escalonando até ao ponto de dominar completamente a sua vida, não sofra desnecessariamente. A melhoria é possível. Se você desenvolveu um conjunto de rotinas e comportamentos de evitamento, deixando de realizar atividades ou tarefas importante para a sua vida, certamente a sua ansiedade atingiu níveis patológicos.
Talvez tenha desenvolvido fobia social, ansiedade generalizada, transtorno obsessivo-compulsivo ou ataques de pânico. Preferencialmente estes transtornos de ansiedade devem ser tratados com ajuda profissional. Pode ainda optar por recolher o máximo de informação acerca do seu problema específico e aplicar na prática as estratégias recomendadas.
Se sofre específicamente de ataques de pânico e apesar de todos os seus esforços não tem conseguido melhorar, conheça o meu livro: Ataques de Pânico – Saiba como superar os seus medos“. Tem ajudado milhares de pessoas e recuperar a sua qualidade de vida e a encarar novamente os desafios com confiança.
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Abraço,
Miguel Lucas
Olá Miguel,
Mais um artigo excelente!!
Obrigada pela ajuda que me tem dado com os seus textos.
NS
Olá NS, obrigado pelo comentário.
Fico contente que os conteúdos dos artigos tenham vindo a ajudar. Tudo de bom
Abraço
Olá Miguel, muito bom artigo!
Quando você sugere ponderar buscar ajuda profissional, você está se referindo a psicólogo, psiquiatra ou neurologista?
Olá An, obrigado pelo comentário.
Quando me refiro a ajuda profissional é isso mesmo. A própria pessoa é que tem de escolher de acordo com a natureza do seu problema. Por vezes psicólogo e psiquiatra deveriam trabalhar em conjunto, o que raramente acontece. Não me parece que a primeira opção deva ser neurologista.
Abraço
Como lidar com "crises de ansiedade’? As vezes em situações de frustraçao começo a ter uns pensamentos negativos que vão piorando,piorando até ter o que eu chamo de "crise",só passa quando eu tomo algum calmante,choro ou procuro alguem pra conversar…. Isso vem acontecendo geralmente 1 ou duas vezes a cada mes (nos ultimos 6 meses). Sera que tornou algo patologico? Fico em duvida pq essas crises passam e depois consigo voltar à minha rotina normal.
Parabéns pelo site.
Eu sempre fui uma pessoa ansiosa mas hoje sou mais controlado, antes eu não podia ficar de frente pra um problema nem que ele fosse um problema pequeno daí acabava fazendo tempestade em copo d’água e só depois de algumas horas meu nervoso passava e eu conseguia raciocinar com lógica e coerência.
Minha ansiedade gerou uma timidez profunda em 2007, neste ano eu não conseguia me comunicar com ninguém que não fosse da minha intimidade, minha vida social era um verdadeiro lixo e eu fiquei revoltado, mudei de ambiente e mudei de escola porque na escola antiga eu tinha apenas 3 amigos e acabei dando a sorte de encontrar um velho amigo na nova escola , aquilo me deixou mais seguro e com o tempo fui percebendo que não tem nenhum benefício em ser tímido. Mas sou até hoje e só consigo ser o completo eu com pessoas íntimas do meu lado por isso tenho um pouco de medo de perder todos os meus parceiros.
Hoje vivo normalmente sou tímido e ansioso sim, mas não como em 2007 e eu vou trabalhar em mim ao máximo até a timidez sumir por completo !
Olá, Miguel! Parabéns pelo trabalho!
Gostaria de saber se você tem no site ou se pretende publicar algum artigo sobre hipocondria.
Um grande abraço!
Excelente texto sobre a ansiedade e seu gerenciamento,continue assim!
Olá, Miguel. Parabéns pelo site e pelo seu trabalho. Eu adoro seus textos, são excelentes e me ajudam muito. Abraços
Olá Miguel parabéns!! Sou do tipo de pessoa muito ansiosa, sofre por antecipação. Não posso ouvir ou saber de Morte, que fico mal, não durmo fico pensando naquilo dia e noite. Você acha que minha unica alternativa é procurar um profissional, quero muito voltar como eu era antes, sem essas neuras. Grata.
Olá, fui num neurologista e ele disse que a principio devo tratar a ansiedade. Tomo o Pamelor 25mg (indicado pelo neuro) a noite, e Alprazolam 1mg (indicado pela clinica geral por conta de minhas noites super agitadas). Me considero uma pessoa muito indecisa, nunca termino um projeto, curso, pois no início vem a empolgação, mas depois eu penso no futuro, que não vai dar certo, e desisto muito fácil de tudo. Até hoje, com 29 anos não tenho nenhuma profissão. Faculdade sem chance, não consigo estudar por tantos anos, e sei que logo no início vou desistir. Já pensei em diversos cursos para fazer, mas desisto antes mesmo de me matricular. Me sinto parada no tempo. Sem perspectiva de vida, sem saber o que fazer dela. Casada e com um filho de 10 anos, me acho impotente diante de tanta responsabilidade mas sem vontade de ir em frente. As vezes acho que não cresci, acho q tenho atitude de criança, ou adolescente…. Não sou uma pessoa muito social com quem não conheço, eu travo, não consigo conversar. Acho q sou inferior a eles, por ja terem uma formação, ou saberem conversar de diversos assuntos.
Sou uma pessoa que nunca estou satisfeita com minha aparência, faço dietas para emagrecer rápido, não sou gorda, muito pelo contrário, meu peso está normal, mas pra mim, quando me olho no espelho, acho q devo emagrecer, e faço isso em pouco tempo, pois não tenho paciência de esperar pelo resultado. Então como muito pouco, faço exercícios para emagrecer logo e consigo. Mas depois volto a engordar novamente. E então, volto na dieta. Não sei se isso tudo é ansiedade… Se os medicamentos estão corretos, pois pra ser sincera, ainda não consegui ver os resultados. Estou tomando há um mês….
Agradeço se puder me ajudar.
Obrigada.
Olá Miguel, descobri este site a pouco por pesquisar sobre o assunto, li esse artigo achei de muita utilidade, pois assim como as pessoa dos outros comentários eu luto para vencer essa ansiedade pelas ”tragédias” que nunca acontecem como eu temia, luto também contra uma profunda timidez que por consequência acaba estragando a nossa vida pessoal e pior ainda do que passar por isso é ver que algumas pessoas não compreendem e até nos julgam mal. Mas a pouco tempo como disse, que eu comecei a ler esses e outros assuntos do site da EP, foram como se fosse uma mãe pra mim. Porque esses artigos me fizeram enxergar coisas que eu também precisava mudar e ainda vejo que preciso muito mesmo porque tem que partir ded dentro pra fora primeiro a atitude e a decisão digo isso no meu caso de querer mudar e não esperar só que os remédios funcionem para me trazer o alívio que eu tanto necessito e já estou colhendo bons frutos. Muito obrigada de coração!!
E sucesso pra você, abraço.