No trabalho de preparação psicológica que tenho vindo a realizar com atletas de alta competição, considero que o desenvolvimento da Mentalidade Competitiva Vantajosa é primordial para o máximo rendimento desportivo. Os atletas de nível internacional e olímpico, são um excelente exemplo do uso dessa extraordinária ferramenta psicológica. Ainda assim, mesmo alguns destes atletas de nível mundial, por vezes, passam por alguns momentos conturbados.
Os Atletas que de forma sistemática e contínua desenvolvem e trabalham na sua Mentalidade Competitiva Vantajosa, tendem a superar mais rapidamente os contratempos, promovendo ainda a continuidade do seu progresso.
Quando falo de Mentalidade Competitiva Vantajosa, refiro-me a um conjunto de recursos psicológicos e emocionais que devem ser desenvolvidos conjuntamente com o treino físico, técnico e tático. A Mentalidade Competitiva Vantajosa tem a sua expressão máxima no que acontece na cabeça dos atletas um pouco antes de começar a competição. O que acontece na mente do atleta durante esse período pré-competitivo, é de extrema importância para que possa preparar e promover o seu estado psicofisiológico, e com isso, realizar o melhor das suas capacidades.
A Mentalidade Competitiva Vantajosa, conceito que tenho vindo a desenvolver e a aplicar com os atletas com quem trabalho, está fundado e fundamentado em três conceitos principais que fazem com que os atletas sejam proativos, assertivos, tenham crenças adaptativas, tenham um elevado controle emocional, e fiquem cientes do que têm de fazer para aumentar a probabilidade de serem bem sucedidos.
A seguir apresento os três recursos psicológicos base que devem ser desenvolvidos para a construção da Mentalidade Competitiva Vantajosa:
1 – Mobilização
Para quem não está familiarizado com o termo “mobilização”, refere-se à capacidade de colocar em ação os recursos disponíveis do corpo e da mente, para que possa otimizar tudo o que foi previamente treinado, e com isso promover a realização dos objetivos desportivos do atleta. Alguns atletas e treinadores abordam-me no sentido de melhorar a agressividade. Sentem que quando competem não estão no estado que pretendem, um estado com elevados níveis de energia, intenção e foco. Usando o termo “agressividade” para descrever esse estado pretendido.
Ainda que a agressividade seja necessária, por vezes pode confundir-se com fúria, zanga ou hostilidade. Por esse motivo uso o termo mobilização, que me parece ser mais apropriado e menos redutor.
A agressividade pode conduzir-nos à aplicação de elevados níveis de energia. O que numa primeira análise até pode parecer benéfico. Será benéfico quando, paralelamente conseguimos ser assertivos e orientados nas ações. Será prejudicial quando a agressividade apenas é entendida como mais potência. E potência sem controle é perda de energia. Por esta razão adotei o termo mobilização, pois para além do recrutamento de energia, faz uso de outros recursos psicofisiológicos. A mobilização permite que os atletas sejam proativos, assertivos, motivados e enérgicos.
A mobilização é sempre necessária, sendo utilizada e aprimorada para os atletas conseguirem passar de um desempenho sólido para um desempenho excepcional, pois permite-lhes alavancar as suas performances para o próximo nível, especialmente para aqueles que não são naturalmente impetuosos na forma como o fazem. Por exemplo, alguns atletas ficam tão esmagados com as suas expectativas de resultado que na hora de competirem não conseguem canalizar a sua energia e o foco para aquilo que mais importa. Ficam abaixo ou acima da sua zona de ativação ótima, prejudicando a sua performance.
A mobilização pode ser desenvolvida de várias maneiras:
Em primeiro lugar, o atleta aprende a associar determinadas palavras, imagens e movimentos físicos ao recrutamento da energia necessária para a competição. O corpo fica assim no seu estado ótimo de funcionamento. Conhecido na literatura esportiva como a “Zona”. O atleta domina o aumento da sua intensidade física, seja com movimentos corporais específicos, seja com o direcionamento da atenção para determinados aspetos psicológicos promotores da motivação e eficácia de movimentos. Num programa de preparação psicológica para atletas, este processo é colocado nas rotinas pré-competitivas do atleta de forma sistemática e intencional.
Em segundo lugar, o atleta aprende a utilizar o seu discurso interno fundido com as suas emoções. Ou seja, não basta apenas saber o que dizer, ou conhecer os processos e recursos psicológicos a utilizar. Para que tudo possa funcionar na totalidade, importa ativar o estado emocional do atleta. Isto é garantido através da forma como fala para si mesmo ou expressa a sua atitude. O atleta pode dizer, por exemplo: “Vamos! Sinto o que quero fazer! Sinto que sou capaz! O que mais importa não é o que o atleta diz, mas como diz. Assim, toda a expressão corporal e verbal do atleta deve comportar a atitude do resultado pretendido. Todo este processo reforça a autoconfiança do atleta.
Em terceiro lugar, o atleta incorpora uma atitude competitiva vantajosa através das imagens mentais escolhidas, em que o atleta se vê a competir e a desempenhar a performance desejada. Nesta etapa, devem ser emparelhados elementos técnicos, que, por sua vez, ajudam a criar um pensamento mais funcional, um melhor foco na tarefa, e um elevado sentimento de eficácia.
2 – Tranquilidade
Como referi anteriormente, um objetivo prioritário do treino e da própria competição é que o atleta conheça e controle o seu nível ótimo de mobilização, e que esta promova a resposta motriz, ou seja, o seu rendimento desportivo. Para que isso seja garantido, o atleta tem de desenvolver o segundo conceito que faz parte do desenvolvimento da Mentalidade Competitiva Vantajosa, que é a tranquilidade.
A tranquilidade é tipicamente melhor para os atletas que ficam nervosos antes de competir. Ao longo das suas rotinas pré-competitivos e quando está prestes a começar uma competição, um dos principais objetivo do atleta é manter a calma e relaxar, permitindo assim que a sua mente não se foque em dúvidas e preocupações, e o seu corpo fique livre das tensões físicas excessivas.
Além disso, uma mente calma pode ser valioso para os atletas que são naturalmente “excitados” e que não necessitam de tomar medidas ativas para entrar em competição. Ou para aqueles que estão sobre grande pressão, quer interna, quer externa. Ou por necessitarem de um excelente desempenho para se qualificar para uma competição nacional ou internacional. Ou por terem vindo a falhar consecutivamente, e quererem quebrar esse ciclo de falhanços e derrotas.
O estado de tranquilidade pode ser desenvolvido de várias maneiras. Primeiro, é difícil ter uma mente calma se o seu corpo está ansioso, assim, aplicar técnicas de relaxamento para diminuir a tensão e agitação motora, é um bom começo. A respiração profunda e relaxamento muscular são duas boas ferramentas que o atleta pode usar para acalmar o seu corpo.
Em segundo lugar, o atleta pode usar as imagens mentais que lhe transmitem calma. Essas imagens tem uma efeito fisiológico direto no corpo e mente do atleta. Em terceiro lugar, o uso das autoverbalizações reconfortantes e orientadas para a sensação de tranquilidade podem aliviar a tensão e nervosismo psicológico. A utilização do diálogo interno é uma ferramenta orientadora muito potente, podendo trazer conforto e confiança para que o atleta consiga realizar o seu melhor.
3 – Clareza de pensamento
É fundamental que o atleta tenha clareza do que necessita falar para si mesmo, ao invés, esperar que no dia da competição tudo aconteça do jeito que ele quer. O atleta deve falar consigo mesmo de modo que deixe claro o que quer que aconteça e não aquilo que não quer. Ao invés de dizer “Espero não voltar a sentir-me nervoso”, seria mais preciso: “Gosto quando me sinto tranquilo e consigo orientar-me nesse sentido.”
Cada vez que o atleta não tem consciência da sua voz interior, ou seja, daquilo que diz para si mesmo ou que lhe passa na mente nos momentos antes da competição, ou até mesmo durante a competição, a sua clareza de pensamento fica afetada negativamente. Fica impossibilitado de ser pró-ativo, passando a ser apenas reativo à possível negatividade que possa estar a experimentar.
Desenvolver a capacidade de pensar acerca daquilo que passa na mente do atleta nos momentos antes da competição, e igualmente acerca daquilo que está a sentir no seu corpo, é extremamente importante para que rapidamente possa reverter a falta de confiança, dúvidas ou contratempos, caso isso se manifeste. Cada vez que o atleta não consegue funcionalmente orientar as suas ações mentais e motoras de forma vantajosa, deixa de estar na sua zona de ótima performance, ficando suscetível a perder a confiança e a sabotar as suas habilidades.
Mentalidade Competitiva Vantajosa
Para que um atleta construa uma base sólida no seu desenvolvimento desportivo, e consiga progredir, não basta treinar apenas os aspetos físicos da sua modalidade. A competitividade é enorme, todos querem ganhar, todos querem melhorar as suas performances. Para que o atleta no dia da competição consiga expressar todo o seu potencial, importa elevar o nível de treino para o seu expoente máximo, visando o máximo rendimento em competição.
O treino desportivo é beneficiado se for levado em consideração o quanto o conhecimento e treino dos recursos internos do atleta, (a gestão das emoções, a capacidade de foco, a organização mental da tarefa, a mestria bidirecional corpo / mente, a canalização da energia) pode contribuir para a melhoria da sua performance esportiva.
A Mentalidade Competitiva Vantajosa, pressupõe o desenvolvimento daquilo que todo o atleta deseja ter no dia da competição: vantagem sobre o adversário. Isto ou é desenvolvido de forma sistemática e programada como qualquer outro aspeto do treino, ou é deixado ao acaso.
Atletas, treinadores, dirigentes, associações, federações ou qualquer outro profissional ou entidade que esteja responsável pelo máximo rendimento desportivo, importa que levem em consideração a preparação psicológica para o planejamento do treino, e mais concretamente o treino da Mentalidade Competitiva Vantajosa. Em detrimento do desenvolvimento deste conceito que abordei no artigo, os atletas treinam, mas não criam uma vantagem competitiva consciente e intencional, e com isso, ficam em desvantagem.
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Abraço,
Miguel Lucas
Olá Miguel, Deus o abençoe sempre!
Miguel, estaria correto adaptar o seu texto para situações de concursos e provas?
Estou me preparando para concursos, muitas vezes perco o foco nos estudos e o momento da prova me apavora a ponto de apresentar sintomas físicos altamente severos..
Observando seu presente texto e os demais para competição esportiva consigo fazer uma analogia com as etapas que enfrento, sendo assim, retorno a questão: estaria correto adaptar o seu texto para situações de concursos e provas?
Atenciosamente,
Adriana
Olá Adriana,
Sem dúvida que este conteúdo e ensinamentos podem ser aplicados a outras áreas de vida. Nomeadamente tudo o que tiver a ver com desempenho e a necessidade de aperfeiçoamento e treinamento.
Tudo o que está relacionado com a obtenção de resultados de excelência, segue um processo de preparação muito idêntico. Com as devidas adaptações para a especificidade dos contextos.
Tudo de bom para você.
Abraço,
Muito bom, gostei bastante, e claro, a aplicação é sucessivamente plausível.
É sempre bom ler conteúdo que realmente nos faça crescer.
#Grato 😀
Olá Miguel gostei muito do artigo, treino uma equipa de futsal e nem sempre é fácil motivar a equipa para os treinos,gostava de saber algumas dicas como motivar nesta situação.
Abraço
Gostaria entrar em contato para marcar um sessão para meu filho. obrigado